Estudo da furg considera volume de bicicletas elevado, porém esperado por Rio Grande ser uma cidade plana
Diariamente, centenas de pessoas saem de casa para trabalhar. A falta de vínculo empregatício e, conseqüentemente, de acesso ao vale-transporte faz com que muitos trabalhadores utilizem a bicicleta como meio de transporte, já que a tarifa para o uso dos coletivos nem sempre consegue ser arcada pelos usuários mais carentes.
Por ser plana, a cidade é propícia ao uso da bicicleta, incentivando a prática que traz benefícios à saúde, além de não agredir o meio ambiente.
Rodrigo Fonseca do Amaral é um dentre tantos rio-grandinos que utilizam a bicicleta para chegar ao trabalho. Há cinco meses atuando na empresa Quip, ele diz que mora consideravelmente perto de seu emprego. No entanto, a falta de iluminação pública em alguns trechos deixa o trajeto, muitas vezes, perigoso. "Vou e volto do trabalho de bicicleta por ser uma maneira mais saudável e econômica de se deslocar pela cidade. Mas penso que é preciso construir ciclovias que liguem várias zonas da cidade, facilitando o trânsito para os ciclistas, que precisam tomar cuidados com o fluxo dos caminhões e automóveis, além dos assaltantes", declara.
Estudo aponta volume de ciclistas
Em junho de 2007, alunos da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (Furg) entregaram à Secretaria Municipal de Segurança, dos Transportes e do Trânsito (SMSTT) um levantamento que aponta as características socioeconômicas e a demanda de usuários de bicicletas no Município.
O estudo analisou o fluxo deste tipo de veículo e a necessidade de implantar um maior número de ciclovias para atender a esta categoria de trabalhadores que, diariamente, driblam o trânsito para chegar até seus postos de emprego. Através de questionários - aplicados para 208 ciclistas -, foram realizadas várias constatações, dentre estas, que quase a totalidade dos entrevistados são clientes ocasionais do sistema público de transporte, o que caracteriza a ciclovia como um método auxiliar de desobstrução das vias públicas.
Os entrevistados responderam a questões como tempo de viagem, conveniência, métodos alternativos de transporte, entre outros. A maioria foi formada por moradores dos bairros Centro, Bernadeth, São Miguel, Buchholz, Junção e São João e que citaram o custo como sendo o motivo pelo qual utilizam a bicicleta como meio de transporte. Além disso, entendem que por conveniência, consideram mais agradável tornar-se ciclista a usuário do transporte coletivo, submetendo-se aos horários do serviço. A idade média destes entrevistados ficou em torno de 32 anos.
600 bicicletas por hora
Com a realização das contagens tornou-se possível quantificar o fluxo de bicicletas nos diversos corredores que, somando àqueles que acontecem no final da avenida Portugal, alcança em torno de 600 ciclistas/hora em horários de pico, volume elevado e esperado para uma cidade plana como Rio Grande. O estudo cita "A implantação da ciclovia pode acarretar inúmeros benefícios à população local, sendo uma ferramenta útil para o aumento da inclusão social por se tratar de uma alternativa de transporte ecológico, eficiente, de baixo custo, que auxiliaria, principalmente, a população de baixa renda", consta.
Além disso, o levantamento aponta que visto o grande número de trajetos possíveis, mesmo com a implantação deste sistema cicloviário - composto por ciclovias, ciclofaixas, bicicletários, paraciclos, além de outros componentes de infra-estrutura necessários -, inúmeros ciclistas continuariam utilizando as vias urbanas em tráfego compartilhado. Portanto, o estudo da Furg aponta a necessidade de o Município investir na integração desses sistemas com as vias cicláveis, que são vias de tráfego compartilhado, adequadas à utilização de bicicletas.
Os autores do estudo foram os acadêmicos da Engenharia Civil Ângelo Willrich, Carlos Gabriel Pereira, Deivid da Silva Teixeira, Jorge Tiago Bastos e Karina Retzlaff Camargo, sob a orientação dos professores Heitor Vieira e Ana Maria Volkmer Azambuja da Silva com a colaboração de Eliane e Rodnei Gallo Flores.
Volume de bicicletas nos picos da manhã e tarde de acordo com o local de contagem, horário, sentido e volume total:
Av. Rheingantz: das 6h45min às 8h15min - 220 bicicletas (bairro/Centro) e 73 (Centro/bairro) e das 17h às 19h - 95 bicicletas (bairro/Centro) e 330 (Centro/bairro)
Presidente Vargas: 7h às 8h30min - 242 bicicletas (bairro/Centro) e 58 (Centro/bairro) e das 17h às 19h30min - 136 bicicletas (bairro/Centro) e 396 (Centro/bairro)
Santos Dumont: 7h às 8h30min - 294 bicicletas (bairro/Centro) e 36 (Centro/bairro) e das 17h às 19h30min - 186 ciclistas (bairro/Centro) e 514 (Centro/bairro)
1º de Maio (Celmar Gonçalves): 6h30min às 8h30min - 168 bicicletas (bairro/Centro) e 50 (Centro/bairro)
1º de Maio (Bar Tigrão): 6h45min às 8h15min - 214 bicicletas (bairro/Centro) e 27 (Centro/bairro) e das 17h às 19h30min - 102 ciclistas (bairro/Centro) e 263 (Centro/bairro)
Av. Itália: 17h às 19h30min - 215 bicicletas (bairro/Centro) e 371 (Centro/bairro)
Roberto Socoowski: 7h às 8h30min - 83 ciclistas (bairro/Centro) e 9 (Centro/bairro) e das 17h às 19h30min - 140 (bairro/Centro) e 424 (Centro/bairro)
Buarque de Macedo: 6h45min às 8h15min - 171 bicicletas (bairro/Centro) e 12 (Centro/bairro) e das 17h às 19h30min - 127 (bairro/Centro) e 288 (Centro/bairro)
Valporto: 6h45min às 8h - 68 ciclistas (bairro/Centro) e 237 (Centro/bairro)
Portugal (final da avenida) - 324 bicicletas (bairro/Centro) e 48 (Centro/bairro)
(Por Mônica Caldeira, Jornal Agora, 18/04/2008)