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2008-04-18

“A capacidade de prever, conter e aproveitar o risco, transformando-o em oportunidade, é um diferencial que caracteriza o empreendedor bem sucedido. Por isso, sustentabilidade tem sim tudo a ver com bons negócios”. A opinião de Roberto Smeraldi, autor do “Manual de negócios sustentáveis” justifica o movimento crescente das empresas em busca de soluções que aliem o crescimento econômico com o uso racional e eficiente dos recursos naturais.

A princípio, o setor privado foi resistente à idéia, mas hoje já percebe os benefícios proporcionados por uma postura responsável em relação ao meio ambiente. Segundo a cientista econômica Dália Maimon, autora do livro “Passaporte verde: gestão ambiental e competitividade”, a resposta das empresas à pressão da sociedade em matéria ambiental pode ser analisada com base em três estágios típicos. No primeiro, ocorre a adaptação às pressões legais e da sociedade a partir da adoção de tecnologias de fim de processo (end of pipe), como equipamentos de controle de poluição, por exemplo, sem impactos significativos nos processos produtivos. A segunda etapa se caracteriza pela modificação de processos e produtos com o objetivo de prevenir a poluição e problemas que prejudiquem a consecução da estratégia empresarial. O último estágio é marcado pela antecipação aos problemas ambientais futuros a partir da adoção de um comportamento pró-ativo a fim de integrar a variante ambiental ao planejamento estratégico da empresa.

As empresas que adaptaram seus processos produtivos e estratégias a para eliminar ou reduzir os impactos no meio ambiente já colhem os frutos dessa decisão que, em muitos, casos ajudou a identificar novas oportunidades de negócio. São os casos abordados, a seguir, de Alcoa, Braskem, Holcim, natura, O Boticário e Petrobras.

Preservação é fator estratégico

A disponibilidade de recursos naturais como a bauxita e energia são determinantes para o processo de fabricação do alumínio. Daí ser a preservação desses recursos um fator estratégico para a perenidade dos negócios da Alcoa – uma das líderes mundiais na produção do metal. Há mais de duas décadas, a empresa, que opera nos Estados do Pará, Minas Gerais e Maranhão, vem orientando suas atividades com base em parâmetros ambientais. Porém, somente em meados da década 1980, com a formação do Consórcio Alumar (complexo de produção de alumínio e alumina localizado em São Luis, MA) esses procedimentos começaram a ser sistematizados. O estímulo para isso foi a necessidade de aprimorar os procedimentos sobre meio ambiente para atender as exigências da nova legislação que, entre outras mudanças, passou a exigir a elaboração de EIA/RIMA (Estudo e Relatório de Impacto Ambiental) para empreendimentos de grande porte.

“A partir daí, a gestão ambiental passou a ser considerada como uma necessidade sistêmica, presente em todas as nossas atividades”, afirma Maurício Born, gerente de saúde, segurança e meio ambiente da Alcoa. Além de minimizar custos, a empresa descobriu novas oportunidades de negócio com a recuperação de matérias-primas e o aproveitamento de resíduos em outros processos produtivos.

Para Franklin L. Feder, presidente da Alcoa América Latina e Caribe, vale a pena antecipar-se às tendências. “Se a empresa ficar exclusivamente focada no cumprimento da legislação, corre o risco de não atender às expectativas das partes interessadas e de ficar com tecnologias defasadas”, ressalta Feder.

Produzindo “plástico verde”

O anúncio do primeiro polietileno de fonte 100% renovável em junho de 2007, fez as ações da Braskem subirem cerca de 4%, tornando-se o terceiro papel mais negociado do Ibovespa. A notícia aqueceu o mercado e puxou outras empresas para a onda verde. Dias depois, a Dow e a Crystalev anunciaram uma parceria para desenvolvimento de um produto com as mesmas características a partir de 2011.

A Braskem investiu US$ 5 milhões no projeto que converte etanol em eteno e, por sua vez, em polietileno. Os pesquisadores da empresa descobriram uma forma de produzir 2,2 vezes mais polietileno "verde" do que a quantidade necessária para produzir a mesma resina a partir do nafta. A meta da empresa é iniciar a produção do “plástico verde” até o fim de 2009, com a instalação de uma fábrica com capacidade anual entre 100 mil e 200 mil toneladas. O investimento previsto gira em torno de US$ 150 milhões. “Estamos nos antecipando a um cenário de escassez de matéria-prima de fontes não-renováveis e, com isso, dando condições melhores de sobrevivência e competitividade para a empresa no futuro”, afirma Roberto Simões, vice-presidente responsável por competitividade empresarial.
Resíduos viram receita

Em meio à crise do Petróleo em 1973, a Holcim desenvolveu a metodologia de co-processamento para transformar resíduos em matéria-prima ou fonte de energia para a produção de cimento. Em 1999, essa tecnologia foi trazida para o Brasil com a criação da Resotec, divisão da Holcim responsável por essa atividade.

A implementação do co-processamento foi um marco na gestão ambiental da Holcim, primeira indústria cimenteira a obter as certificações ISO 9000 e ISO 14001. A partir de então, ficou claro que a incorporação da variante ambiental na estratégia da empresa poderia gerar valor para o meio ambiente, para a sociedade e para os negócios.

“Incorporar a variante ambiental na estratégia da empresa, dando a ele o mesmo peso que damos à área de negócios ou de responsabilidade social, implica estipular ações que vão melhorar a qualidade de vida de todos nós, cidadãos, e da própria Holcim, que depende da preservação do meio ambiente e da utilização consciente dos seus recursos minerais, por exemplo, para continuar existindo”, afirma Thomas Uebelhard, diretor industrial da Holcim.

Aposta na biodiversidade brasileira

Em 1983, a Natura colocou no mercado o primeiro refil para produtos de alto consumo no Brasil, como shampoos e desodorantes. A medida contribuiu para a redução do uso de água, energia e matéria-prima para a confecção de embalagens.

Além da economia na produção, o lançamento do primeiro refil foi um importante marco na abordagem da questão ambiental na Natura, segundo Rodolfo Guttilla, diretor de assuntos corporativos e relações governamentais da Natura. “Aos poucos essa variante foi sendo incorporada à estratégia da empresa e novas oportunidades de negócios foram identificadas, como a linha Ekos, lançada em 2000. Os produtos dessa linha são desenvolvidos a partir de ativos da biodiversidade brasileira, extraídos e processados de forma sustentável. Essa postura tornou-se um diferencial competitivo e teve influência na conquista de novos mercados, inclusive no exterior”, afirma Guttilla.

Apoio à pesquisa

Antes mesmo de a questão ambiental se consolidar como uma variante importante para os negócios, Miguel Krisgner, presidente do O Boticário, criou a primeira fundação corporativa no Brasil para atuar no patrocínio e disseminação de ações na área de preservação da natureza. A Fundação O Boticário foi fundada em 1990 com o objetivo inicial de estimular a pesquisa e a discussão de metodologias para a conservação ambiental e qualidade de vida.

Braço importante para a promoção do diálogo com a sociedade civil e da sustentabilidade dos negócios da empresa, a Fundação O Boticário presta consultoria, por meio dos conhecimentos adquiridos, ao desenvolvimento da linha de produtos da empresa. “Os negócios e a Fundação se identificam em alguns momentos e um contribui com o outro”, destaca Márcia Vaz, gerente de Responsabilidade Social do O Boticário. Ela cita como exemplo a linha Nativa Spa, que apresente diferenciais como sabonetes à base de óleos vegetais e corantes naturais, além de embalagens que não agridem o meio ambiente.

Transformando riscos em oportunidades

Na Petrobras, a questão ambiental ocupa posição primordial nos processos e na estratégia de atuação. Sobretudo, após o acidente ocorrido em na Baía da Guanabara, em 2000, quando 1,3 milhões de litros de óleo vazaram para o mar. “Esse triste episódio foi um divisor de águas na nossa gestão ambiental. A partir daí, enfatizamos as boas práticas nessa área. As unidades foram certificadas de acordo com as normas de meio ambiente, saúde e segurança e introduzimos novos parâmetros de avaliação dos processos. Passamos a ter procedimentos e metas para todas as variantes ambientais, o que levou ao aperfeiçoamento do desempenho e aumento da percepção da Petrobras como empresa responsável”, afirma Luis Cesar Stano, gerente de Saúde, Segurança e Meio Ambiente da empresa. Segundo ele, de 2000 a 2006, foram investidos cerca de U$ 4 bilhões em projetos para identificar riscos operacionais e otimizar a gestão ambiental em todas as unidades no Brasil e no exterior.

A variante ambiental também é um dos critérios para destinação de investimentos em pesquisa e desenvolvimento da Petrobras. Somente para a área de biocombustíveis e energias renováveis, estão previstos investimentos de US$ 1,3 bilhão.

Estágios de evolução da gestão ambiental nas empresas

Postura reativa
-Adaptação da empresa às pressões legais e da sociedade
-Dimensão ambiental é compreendida como um fator gerador de custos extras e elemento de entrave à expansão dos negócios
-Controle ambiental nas saídas (poluição)
- Institucionalização das atividades ambientais na empresa, que coincide com a determinação de uma área funcional

Postura preventiva
-Antecipação aos problemas ambientais futuros
-Controle nas práticas e processos industriais
-Integração interna da variante ambiental
-A variável ambiental é tratada em projetos de negócios específicos
-O desempenho da gestão ambiental é baseado em legislações ou exigências do mercado

Postura pró-ativa
-Integração da variante ambiental no planejamento estratégico da empresa
- Dimensão ambiental passa a ser vista como uma oportunidade real de geração de lucros
-Mobilização de todos os setores da organização em uma atitude pró-gestão ambiental
-Avaliação e controle dos impactos ambientais

(Carbono Brasil, 17/04/2008)


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