Um sistema é definido como um conjunto de partes ou elementos atuando visando um fim comum. Cada elemento depende do outro.
Um sistema fechado é um sistema que não se comunica com o ambiente externo, enquanto que um sistema aberto está em contínua interação e troca de energia com o ambiente externo. Os seres vivos e também as organizações pertencem aos sistemas abertos, porque interagem com o ambiente externo, trocando produtos, serviços, energia, informação, pressionando e recebendo pressões. No entanto, o planeta Terra, nosso ecossistema, está sendo considerado um sistema fechado, pois não pode importar recursos naturais ou biodiversidade, devendo reutilizar, reciclar utilizar tão somente o estoque atualmente disponível: os recursos não renováveis não podem ser repostos. Findo estes, acaba a vida no planeta.
A Teoria dos Sistemas propõe uma visão de que as empresas estão inseridas num mundo sistêmico e devem atuar de forma a gerar as melhores condições de qualidade de vida para a sociedade, visando a sustentabilidade a longo prazo de todos os componentes e não somente da empresa. Há necessidade de uma visão holística, sistêmica, levando em conta todas as partes de forma integrada e harmônica. Num sistema, todas as partes precisam atuar em limites de faixa variável, sob pena de entropia (morte) e por isso um sistema não permite a maximização de um único componente, como o lucro, mas exige um equilíbrio interno e externo, atendendo as necessidades de todos, especialmente as sociais e ambientais. Afinal, as empresas vivem na sociedade, para a sociedade e em função de todos os stakeholders. Como o valor da empresa é criado e mantido pelos stakeholders, então ela deve atender às necessidades deles, sob pena de comprometer a sua própria sobrevivência.
O agigantamento das corporações e sua crescente influência na sociedade; a globalização; a conscientização crescente da população fruto da educação e de uma visão holística e sistêmica; a cobrança de ativistas e do mercado; a exigência dos consumidores; a gestão dos relacionamentos; o crescimento do conhecimento e dos estudos de administração, entre outros, determinaram a extensão da teoria da agência para incluir todas as partes interessadas (stakeholders), assim entendidos todos aqueles que de uma forma ou outra afetam e são afetados pela atividade das empresas, como: componentes da cadeia de valor; governo; comunidade internacional; comunidade local, meio ambiente, enfim, todos os habitantes do planeta e até as gerações futuras, que gera um novo conceito de responsabilidade das empresas: a responsabilidade transgeracional, econômica, social e ambiental, baseada no conceito de triple bottom line.
Andrade e Rosseti (2007, p. 119) assim descrevem esta mudança:
Em contraposição ao objetivo de máximo retorno total dos proprietários, têm sido desenvolvidas proposições mais abrangentes aos objetivos corporativos, apoiados no conceito de triple bottom line. Estas proposições não recusam nem questionam a legitimidade do retorno dos investidores, mas ponderam que as companhias também acumulam ganhos – de que são exemplos a imagem e a reputação corporativa – se atuarem com olhos voltados para questões econômico-financeiras, ambientais e sociais. E podem incorrer em perdas e riscos se desconsiderarem estas questões.
Adolf Berle, apud Andrade e Rosseti (2007) questiona a maximização do lucro para os acionistas baseado nos argumentos de que os acionistas não suam para merecer os lucros do sistema produtivo e a possibilidade de ganhar o lucro sem trabalhar somente se justifica se a sociedade também participar. Com isto, a empresa, uma vez que está inserida dentro de um sistema social maior, não tem o direito de maximizar o lucro dos acionistas, porque isto implicaria em minimizar o benefício para os demais stakeholders, ali incluídas as necessidades econômicas, sociais e ambientais. E minimizar as condições sociais e ambientais tem o mesmo efeito de entropia, ou seja, desorganização ou morte do sistema.
Um sistema vivo reage contra esta tentativa de maximização de um componente, visando recuperar o equilíbrio (homeostase), adotando o processo de defesa denominado entropia negativa, ou negentropia. É possível que uma empresa seja eliminada como mecanismo de proteção da sociedade (entropia negativa) sempre que ela gera um processo de entropia econômica, social ou ambiental.
A Entropia é a tendência à desorganização, paralisação, à morte, devido às forças do meio ambiente, ou à própria acomodação, por falta de energia. Com o output do processo, o sistema deveria ser capaz de repor as energias de que necessita. Para evitar entropia, os elementos ou o sistema precisam desenvolver entropia negativa,ou neguentropia, mecanismos de sobrevivência e continuidade. Tanto nas empresas como por parte dos stakeholders, a entropia negativa se dá com a recuperação ou acumulação de energia representada pelo resultado, pois com o produto da compra ou venda dos produtos e serviços ela deverá conseguir atender necessidades ou repor os recursos necessários (matéria-prima, humanos, etc.) para um novo ciclo, indefinidamente.
Capra (2006, p. 263) diz que um organismo vivo funciona sob o princípio dinâmico da auto-organização, que é obtida pela auto-renovação – “capacidade de renovar e reciclar continuamente seus componentes” e pela autotranscendência -, a “capacidade de se dirigir criativamente para além das fronteiras físicas e mentais nos processos de aprendizagem, desenvolvimento e evolução”. Para isso, as empresas precisam inovar e evoluir, adaptando-se ao novo modelo sistêmico, onde os interesses individuais das pessoas podem competir com o interesse maior da organização. No entanto, as forças do princípio integrativo e cooperativo atuarão no sentido de assegurar a preservação do sistema e, com isso, a dos indivíduos e da organização. As empresas então adotarão mecanismos para assegurar o alinhamento de objetivos internos e externos, ou objetivos da organização e dos indivíduos. Este é o caminho da sustentabilidade das empresas.
A economia está inserida no contexto maior e se relaciona com o social e o ambiental de forma complexa. Sua compreensão exige cada vez mais incursão em outras áreas, como a sociologia, psicologia, biologia, filosofia, física e demais ciências, num processo multidisciplinar. Nesta linha, Morin (2006, p. 88), ao tratar das empresas, diz que nós conhecemos a realidade através da informação que temos em nossa mente, sentidos, cérebro. A síntese deste enfoque foi assim descrita:
Estamos diante de sistemas extremamente complexos onde a parte está no todo e o todo está na parte. Isto é verdade para a empresa que tem suas regras de funcionamento e no interior da qual vigoram leis de toda a sociedade.
Na mesma linha, Senge (2006, p. 13) afirma que “líderes bem sucedidos normalmente são, em grande parte pensadores sistêmicos”, ao destacar a necessidade de entendimento da complexidade dinâmica das relações de causa e efeito, dos padrões e tendências emergentes para orientar as ações estratégicas.
A visão sistêmica leva em conta os mecanismos de auto-regulação (feedback), onde as partes atuam visando o fim comum. Uma empresa não é senão um sistema aberto onde as partes atuam de forma coordenada visando o fim comum (Mariotti, 2007). Desta forma, não seria admissível a maximização do benefício de um único componente do sistema - o lucro dos acionistas - pois implicaria minimizar o benefício de todos os demais stakeholders pertencentes ao sistema, incluindo clientes e fornecedores, comprometendo a sobrevivência do todo (entropia). A empresa deve abrir mão da maximização do lucro como única forma de sobrevivência no longo prazo, e não por questões puramente altruístas.
Neste sentido, Borger (2006, p. 27), adotando o conceito de responsividade corporativa (corporate responsiveness) proposto por William Frederick, e dentro de uma visão sistêmica, escreve que “as empresas devem responder às demandas sociais para sobreviver, adaptando o comportamento corporativo às necessidades sociais, diferente do conceito de responsabilidade social, cujas raízes estão na ética”. Observa-se que não é mais a ética o fator determinante do comportamento da empresa, mas a necessidade inadiável de adaptação, de homeostase, de evitar a entropia, ou seja, de se manter ajustada ao meio sistêmico, sob pena de ser eliminada pelos demais componentes, como um corpo estranho e não ajustado ao fim único e comum, no caso, o bem-estar econômico e socioambiental.
Breton e Pesqueux (2006, p.12) afirmam que “antecedendo o mandato dado aos gestores pelos acionistas, está o mandato dado ao empreendedor pela sociedade”. Destacam, a partir da visão de Davis and Blomstrom (1971) que a corporação é, primeiramente, uma instituição social, que utiliza os recursos dados pelos que estão em seu entorno.
Zairi e Bashir (2007, p. 43) entendem que o crescente interesse em governança corporativa provém da “ mudança no poder; o poder está caindo nas mãos do cliente e de outros stakeholders ativistas (como os acionistas minoritários), que podem exercer sua escolha.
Espera-se que as novas gerações de gestores incorporem esta visão holística em suas mentes e as utilizem em seus modelos de gestão corporativa.
Referências
ANDRADE, ADRIANA; ROSSETTI, JOSÉ PASCHOAL. Governança Corporativa: Fundamentos, Desenvolvimento e Tendências 3a. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
BORGER, FERNANDA G. Responsabilidade corporativa: a dimensão ética, social e ambiental na gestão das organizações. In: VILELA JÚNIOR.,Alcir; DEMAJOROVIC,Jacques (org.). Modelos e Ferramentas de Gestão Ambiental: desafios e perspectivas para as organizações. São Paulo: Ed. Senac, 2006.
BRETON, GAÉTAN; PESQUEUX,YVON. Business in society or an integrated vision of governance. Society and Business Review. Vol.1 n. 1, 2006 , p.7-27.
CAPRA, FRITJKOF. Ponto de Mutação. São Paulo: Cultrix,2006.
MARIOTTI, HUMBERTO. Pensamento Complexo. São Paulo: Atlas, 2007
MORIN, EDGAR. Introdução ao Pensamento Complexo. Porto Alegre:Sulina, 2006.
SENGE, PETER. Bons Gerentes Não tomam Decisões Políticas. In: MINZTBERG, HENRY et. al. O Processo da Estratégia:Conceitos,contextos e casos selecionados. 4.a Ed. São Paulo: Bookman; 2006.
ZAIRI, MOHAMED. BASHIR, NEELUM. Governança Corporativa no Oriente Médio: Quais são os focos? . in: BERTIN,MARCO E.; WATSON, GREGORY H. (org). Governança Corporativa: Excelência e Qualidade no Topo. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2007.
(Por Eloy Fenker, mestrando em Contabilidade na Unisinos/RS, membro da Envorinmental Management Accountants Net Work Europa (EMAN/EU) e da Associação Brasileira de Custos, Ambiente Brasil, 17/04/2008).