O presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Paulo Buss, criticou ontem (17) a indústria farmacêutica em discurso no lançamento de um novo remédio contra a malária, produzido no Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos). "Como é doença de pobre, muitas vezes, a grande indústria não tem interesse de pesquisar (novas drogas) porque pobre não tem dinheiro para comprar remédio", afirmou. Segundo ele, a doença ameaça 3 bilhões de pessoas no mundo, causando cerca de 1,5 milhão de mortes por ano.
O medicamento ASMQ, um pequeno comprimido azul, é uma nova formulação em dose fixa da combinação de artesunato (AS) e mefloquina (MQ). Foi resultado de uma parceria da Fiocruz e Farmanguinhos com a organização Iniciativa de Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi, Drugs for Neglected Deseases initiative).
"A malária acomete, principalmente, pessoas simples, muitas pessoas ligadas ao Movimento dos Sem-Terra (MST), de assentamentos. Quanto custa o sofrimento das pessoas? Elas vão ser de imediato beneficiadas por esse produto, que será introduzido na rede, com distribuição gratuita. Fora a questão da internação, que diminui rapidamente e vai gerar economia para o País", declarou o coordenador do Programa Nacional de Controle da Malária (PNCM), José Lázaro Ladislau.
Segundo a Fiocruz, o ASMQ simplifica o tratamento porque assegura que as duas substâncias serão tomadas juntas e na proporção correta, com uma dose diária de um a dois comprimidos por três dias. Há cápsulas específicas para crianças, principais vítimas da malária. Segundo a Fiocruz, é o primeiro derivado de artemisinina (substância antimalárica) em quantidade fixa que pode ser armazenado por até três anos em clima tropical - no Brasil, 99% dos casos de malária se encontram na Bacia Amazônica. De acordo com o Ministério da Saúde, um estudo realizado há cerca de um ano no Acre com 17 mil pacientes mostra que houve redução de 70% dos casos após o uso do medicamento.
RemédioO remédio estará disponível a preço de custo - 4,25 reais o tratamento completo em adultos - para setores públicos de países endêmicos da América Latina e do sudeste da Ásia. O desenvolvimento da droga custou 7,8 milhões de euros, financiados pela União Européia (UE) e organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF), entre outros.
(Por Felipe Werneck,
Agencia Estado, 17/04/2008)