São alarmantes os sinais que estamos recebendo de distintas regiões do planeta sobre os efeitos do aquecimento global. Superaram as previsões gerais dos cientistas quanto a seu potencial negativo. Sem entrar em detalhes numéricos aborrecidos, a magnitude do problema é tal que não é necessário o olho expert do entendido, para captar que as coisas não andam bem.
Segundo o Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC) – associação de experts mais importantes do mundo – os graves problemas recém começam, e é por isso que é necessário uma rápida resposta da humanidade para enfrentar a crescente liberação de gases de efeito estufa na atmosfera. Como não sabemos a magnitude que terá nas próximas décadas a elevação da temperatura global, ignoramos a qual dos cenários previstos deveremos enfrentar.
Até certo tempo, as advertências ambientais que se escutava, em geral, não ameaçavam a humanidade de maneira tão evidente. Mas isso mudou. É tão grave a advertência do IPCC que nossa primeira reação é não acreditar e mudamos de assunto. A que pode ocorrer que está em risco boa parte do mundo atual? Este complexo problema, pelo menos, tem dois aspectos importantes a considerar. Ambos têm que ver com as causas.
Quem são, então, os responsáveis?
Quase a metade das emissões de gases que estão aquecendo a atmosfera é expulso pelos sete países mais industrializados do planeta. Entre eles, os Estados Unidos lideram com nada menos que 25% das emissões totais. Uma loucura! De toda essa contaminação mais de 90% provém da combustão de carvão, petróleo e gás natural. Mesmo sabendo que esta conduta é suicida, ninguém parece disposto a diminuir sua ganância para dar uma esperança à humanidade.
Como se pode ignorar o que aconteceu com o devastador Katrina e outros terríveis desastres ocorridos?
Fica a sensação de que se está ganhando tempo para ganhar um pouco mais de dinheiro, até que se enfrente o problema com valentia e responsabilidade. Mas não termina aqui o problema. Mais além dessa enorme assimetria entre quem são os grandes responsáveis pelo problema e o futuro trágico que se avizinha para milhões de pessoas inocentes de todas as latitudes, é evidente que não é viável o atual modelo de desenvolvimento – e os estilos de vida que promove.
O consumo regulado pelo poder aquisitivo de uma população mundial que superou faz tempo os 6 bilhões de pessoas constitui um obstáculo insuperável para a sustentabilidade de qualquer sistema. Como se detém esta maquinaria? Desconhecemos a resposta. Soa muito bem dizer que todos deveremos modificar nossos estilos de vida e hábitos de consumo. Mas não nos enganemos: muito poucos estão dispostos a fazê-lo. Assim como no passado remoto os seres humanos lograram sobreviver em um mundo muito hostil, novamente deveremos apelar à inteligência, ao bom senso e à capacidade de adaptação às novas situações, para evitar que o planeta seja um lugar hostil para se viver.
(Por Hernán Sorhuet Gelós*, Eco Agência, 17/04/2008)
*O autor é jornalista no Uruguai e escreve artigos sobre meio ambiente para o jornal El País, de Montevidéo. Tradução de Ulisses A. Nenê, da EcoAgência.