A declaração foi fortemente repudiada pelo presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, mas o Relator Especial da Organização das Nações Unidas para os Direitos à Alimentação, Jean Ziegler, foi enfático: a produção de agrocombustíveis é um crime contra a humanidade. Ziegler disse ainda que os países participantes da 30ª Conferência Regional da Organização para a Agricultura e a Alimentação (FAO, sigla em inglês) para a América Latina e o Caribe devem declarar uma moratória dos agrocombustíveis.
Durante a conferência, que é realizada desde segunda-feira (14/04) e vai até hoje (18/04) em Brasília, os países discutem as oportunidades e os desafios da produção de biocombustíveis para a segurança alimentar e para o meio ambiente na América Latina e no Caribe.
Para a organização de defesa dos direitos alimentares, Food First Information and Action Network (FIAN), o fomento aos agrocombustíveis não vai resolver o problema da fome na região, pelo contrário, ameaça agravá-lo. A FIAN pediu que os Estados presentes na conferência tomem medidas imediatas de proteção para as terras e territórios das comunidades rurais e povos indígenas, assim como para o acesso dos setores urbanos pobres aos alimentos.
Os agrocombustíveis promoverão a perda das autonomias alimentares, pois o aumento da demanda por terra, para a expansão dos monocultivos, aumentará os conflitos no campo. Nesse sentido, vai dificultar a execução das políticas de reforma agrária. O acesso econômico aos alimentos se deteriorará ainda mais. Produtos como milho, trigo, produtos lácteos, carnes e azeites vegetais, básicos para a alimentação humana, já sofreram aumentos. E os setores pobres, que gastam entre 50% e 70% de suas rendas em comida, enfrentam dificuldades em comprá-los.
Também a ajuda alimentar a países como Zimbábue, Eritréia, Haiti, Djibouti, Gâmbia, Tajiquistão, Togo será prejudicada porque no há tantos excedentes de produção de alimentos. A expansão dos monocultivos tem implicações na mudança climática, já que inúmeros bosques e selvas estão sendo destruídos para dar espaço aos monocultivos. Esses produzem a contaminação dos solos, rios, águas subterrâneas, devido ao uso intensivo de fertilizantes e pesticidas químicas.
(Adital, 17/04/2008)