A maior eficiência dos processos produtivos e a participação menor daqueles setores que mais consomem energia estão fazendo o perfil de consumo industrial no país se aproximar do gasto de energia verificado em países desenvolvidos. "Antes, para cada ponto percentual de crescimento do PIB, o consumo de energia crescia dois pontos percentuais. Hoje, a paridade já é próxima de um para um", disse Mauricio Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
A afirmação foi feita ontem pelo executivo, ao anunciar uma mudança no sistema de cálculos da pesquisa de consumo de energia feita pela empresa. No ano passado, a pesquisa fazia duas estimativas diferentes, baseada em duas expectativas distintas de crescimento. Tolmasquim revelou, no entanto, que no fim de 2007 observou-se uma alta do PIB acima do teto esperado e um crescimento do consumo de energia abaixo do piso estimado.
Com isso, a partir deste ano, haverá apenas uma estimativa, tanto de PIB, quanto de crescimento de consumo. "O avanço da indústria, com aumento de participação de setores de maior valor agregado e redução de segmentos que mais consomem energia, o aumento da importação e a eficiência dos processos produtivos aproximaram o perfil do consumo do Brasil daquele observado em países desenvolvidos", afirmou Tolmasquim.
De acordo com as estimativas divulgadas pela EPE, o consumo de energia elétrica no Brasil vai crescer 5,5% ao ano em média até 2017. O cálculo leva em consideração um crescimento médio do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro de 5% ao ano e um crescimento populacional de 20,5 milhões de pessoas na década.
O consumo da energia gerada pela autoprodução de grandes indústrias deve crescer em média 11,2% ao ano. O consumo do sistema interligado nacional aumentará em média 4,8% ao ano, pelas previsões da companhia. No ano passado, a EPE estimava crescimento médio anual de 5,1% no consumo de energia até 2016, projeção que era baseada em um avanço anual do PIB de 4,5%.
De acordo com os dados divulgados ontem pela EPE, o consumo total - que considera a soma do consumo da rede e da autoprodução --, passará dos atuais 412,6 Twh (terawatt-hora) para 706,4 Twh. Neste cenário, o peso da autoprodução sairá de 8,6% para 14,5% do total, no mesmo período.
O aumento esperado na área de autoprodução de energia contribuirá para que o consumo industrial perca importância na participação no consumo final na rede. Atualmente, a indústria responde por 46% do total consumido no sistema interligado, percentual que baixará, segundo a EPE, para 44%, em 2012, e 42% em 2017.
Para fazer frente ao aumento esperado de consumo, a EPE estima que a capacidade instalada de geração no país deve crescer entre 3.500 MW e 4.500 MW por ano entre 2007 e 2012, volume que deve passar para algo entre 4.000 MW e 5.200 MW ao ano entre 2012 e 2017. "Esse crescimento vai se aproximar da estimativa mais elevada, se houver adição de muitas hidrelétricas, que dependem de condições hidrológicas para manter a produção constante ao longo de todo o ano", disse Tolmasquim.
(Valor Online,
FGV, 17/04/2008)