A maior parte das famílias envolvidas em conflitos por terra na região Amazônica (58%) no ano de 2007 foi de populações tradicionais (remanescentes de quilombos, ribeirinhos, seringueiros, castanheiros, pescadores, povos indígenas e comunidades de posseiros) que, em grande parte, são afetadas pelo avanço do agronegócio sobre a Amazônia. As informações são do relatório Conflitos no Campo 2007, divulgado nesta semana pela Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Este envolvimento, segundo José Batista, coordenador nacional da CPT, reforça a idéia de expansão das monoculturas. "Uma coisa que chama a atenção é que a maior parte dos conflitos envolveu comunidades, que já tinham a posse da terra, mas não a propriedade", afirma.
O número de famílias expulsas se espalhou pelo território brasileiro. Em 2006, dez estados tiveram casos de famílias expulsas, já em 2007 foram 14. A CPT defende que este aumento foi causado devido à política do governo federal, que privilegia o agronégocio em detrimento da agricultura familiar e camponesa.
Outros conflitos tiveram como envolvidos sem-terras em 28% dos casos e 10% de assentados. Segundo a comissão, conflitos são ações de resistência e enfrentamento que acontecem em diferentes contextos sociais no âmbito rural envolvendo a luta pela terra, água, direitos e pelos meios de trabalho ou produção.
Justiça à sua maneiraOutro aspecto apresentado como merecedor de atenção foi a atuação das milícias privadas no campo. De acordo com José Batista, o fato é preocupante pois demonstra a ineficiência do estado em atuar no campo. A quantidade de famílias expulsas entre 2006 e 2007 no Brasil teve um aumento de 140%, passando de 1.809 para 4.340.
De modo geral, esta 23ª edição do documento apresentou uma diminuição no número de conflitos no campo entre os anos de 2006 e 2007, com queda de 7%. Somente a região Sudeste apresentou aumento desse número e também da quantidade de pessoas envolvidas. Segundo o relatório essa diminuição pode ser interpretada pela implantação de políticas sociais e compensatórias, como o Programa Bolsa Família.
O documento será encaminhado para órgãos públicos responsáveis como um retrato sobre a situação do campo brasileiro.
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Amazonia.org.br, 17/04/2008)