Durante palestra, comandante critica política indígena e divisão de índios e não-índios.
Para ele, existe a hipótese de o Exército atuar num conflito armado na região
Editoria de Arte/G1O comandante militar da Amazônia, general Augusto Heleno Ribeiro Pereira, criticou nesta quarta-feira (16) a política indígena brasileira e afirmou que a ausência do estado na Amazônia é hoje uma das maiores ameaças internas da região. Durante o seminário “Brasil, ameaças a sua soberania”, realizado no Clube Militar, no Centro do Rio, o general afirmou que a Amazônia é hoje a hipótese mais viável de atuação do Exército num conflito armado.
“A ausência do estado permite e incentiva ação das ONGs e agrava a questão indígena. O problema indígena não pode ser compreendido fora dos quadros da sociedade brasileira. Sou totalmente a favor do índio. Não estou na esquerda escocesa que, atrás de um copo de uísque 12 anos na Avenida Atlântica resolve os problemas do Brasil inteiro”, afirmou Pereira, para uma platéria de cerca de 600 militares.
Provocação à demarcação de reserva
Pereira afirmou ainda que a política indígena brasileira precisa ser revista e interessa diretamente as Forças Armadas, por afetar a segurança e soberania nacionais.
“É só olhar as comunidades para ver que essa política é lamentável. E pela primeira vez estamos escutando coisas que nunca aconteceram na História do Brasil. Negócio de índio e não-índio. Então no Bairro da Liberdade, em São Paulo, vai ter japonês e não japonês? Só entra quem é japonês, quem não é japonês não entra? Onde é que nós estamos buscando isso? Como um brasileiro não pode entrar numa terra porque a terra é indígena? Isso não entra na minha cabeça”, afirmou o general.
A provocação se refere à demarcação da reserva indígena Raposa Serra do Sol , onde a discussão sobre a permanência ou retirada de moradores não-índios tem gerado graves conflitos em Roraima. Um decreto assinado em 2005 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva homologou a criação da reserva e determinou a retirada dos não-indígenas da área. Agora, caberá ao Supremo Tribunal Federal (STF) decidir se mantém o decreto ou atende à reivindicação de grupos que discordam da medida e defendem a permanência de enclaves não-indígenas na região.
Críticas à declaração da ONU
O comandante militar da Amazônia criticou ainda a declaração da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre direitos dos povos indígenas, que destaca a “desmilitarização das terras indígenas para a paz, o progresso e o desenvolvimento econômico e social”.
“Quer dizer, o entrave somos nós? Não estou inventando nada. Está escrito aí”, disse.
(G1, 16/04/2008)