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passivos dos biocombustíveis
2008-04-17

As instalações são razoavelmente pequenas. E mesmo que tudo corra bem, sua produção será razoavelmente modesta -apenas 13.500 toneladas de diesel por ano comparadas com o consumo anual da Alemanha de 30 milhões de toneladas. Ainda assim, esta minúscula refinaria na cidade oriental alemã de Freiburg conseguiu atrair um número de visitantes altamente proeminentes, incluindo os diretores e pesquisadores da Mercedes e da Volkswagen.

E eles não serão os únicos na grande estréia da fábrica, na quinta-feira (17/4). Altos gerentes da Shell estarão lá, assim como a chanceler alemã Angela Merkel. Afinal, o pequeno conjunto de silos de concreto, câmaras de combustão e catalisadores da Choren Industries vale uma homenagem. Única no mundo, a fábrica é desenhada para transformar a madeira em combustível para automóveis -e assim representa um passo decisivo para a chamada "segunda geração" de biocombustíveis.

Nas últimas poucas semanas, o apoio para os biocombustíveis convencionais, como o óleo de canola e o álcool, atingiu novas baixas, com muitos duvidando se jamais trarão quaisquer benefícios. A promoção da primeira geração de biocombustíveis por meio de incentivos fiscais e misturas de combustíveis obrigatórias se provou uma abordagem enganosa. Mas o fiasco era perfeitamente previsível.

Corrigindo os erros da primeira geração
Os níveis de produção são simplesmente baixos demais quando os combustíveis são derivados exclusivamente de grãos e tubérculos. Os benefícios ambientais são limitados e podem de fato fazer mais mal do que bem. E mais, os biocombustíveis não funcionam bem em muitos motores. Tudo isso era sabido e em grande parte ignorado por anos.

Agora a Choren quer marcar o amanhecer de uma nova era. A fábrica em Freiberg usa biomassa não alimentar em vez dos cultivos tradicionais e é a primeira do tipo a cruzar o limite da pesquisa teórica para a produção industrial. Essa refinaria avançada foi formulada para provar que novos combustíveis são possíveis -e podem ser produzidos em escala muito maior.

Em vez de beterraba e canola, a nova fábrica usa a madeira como matéria-prima. Em uma situação de aperto, também pode usar capim. O uso desses materiais aumenta significativamente a produção de áreas cultivadas. De acordo com estimativas fornecidas pela Agência Alemã de Recursos Renováveis (FNR), o rendimento anual de energia usando o processo da Choren, baseado no clima da Europa Central, é de 4.000 litros de combustível por hectare, que é de até três vezes mais que os métodos anteriores de produção de biocombustível. E mais, em contraste com os métodos de produção com óleo de canola e etanol, essa técnica não produz combustível de qualidade inferior. A Choren produz um diesel extremamente puro, virtualmente sem enxofre. Além disso, esses biocombustíveis de segunda geração não prejudicam os filtros de partículas ou os motores e cumprem altos padrões de emissões.

A tecnologia inovadora é de fato uma maravilha descoberta pela pesquisa na antiga Alemanha Oriental. Depois da Segunda Guerra Mundial, o Estado socialista fundou o Instituto Alemão de Combustível na cidade mineradora de Freiberg. Motivados por preocupações que o país um dia pudesse se ver cortado do fornecimento de petróleo, químicos e engenheiros trabalharam no sentido de avançar a tecnologia de conversão de carvão usada na Alemanha nazista. Afinal, não havia falta de lignita -também conhecida como carvão marrom- na RDA.

O carvão nada mais é que biomassa fossilizada -um combustível com base vegetal. Não demorou muito para a idéia fazer o salto dos laboratórios fechados pelo muro e se tornar um novo empreendimento na Alemanha unificada de livre mercado.

Encontrando amigos nos locais corretos
Bodo Wolf subiu na carreira de minerador até engenheiro -e eventualmente se tornou um dos principais pesquisadores do instituto de combustível. Em 1990, apenas um ano depois do muro cair, ele e um grupo de colegas fundaram a empresa que eventualmente tornou-se a Choren. Wolf desenvolveu uma técnica baseada nos principais elementos do processo de liquefação do carvão para transformar a madeira em um gás que por sua vez poderia se tornar um combustível líquido.

Depois, houve uma década de difícil trabalho pioneiro acompanhado da compreensão crescente de que os recursos limitados de meia dúzia de cientistas nunca seriam suficientes para um projeto tão ambicioso. Em 2000, a empresa de Wolf estava em vias de falência quando convenceu Hanns Arnt Vogels, ex-diretor da corporação aeroespacial MBB, de que tinha uma idéia vencedora.

Então, as portas começaram a se abrir. Grandes portas. Vogels tinha conexões, poder e dinheiro. Logo, Wolf estava vendendo o conceito para VW e Mercedes, que rapidamente entraram no plano como parceiras de desenvolvimento. Vogels reuniu investidores respeitados da indústria, inclusive ex-presidentes de bancos e Michael Saalfeld, distinto magnata da energia verde.

Desde então, foram injetados US$ 285 milhões (em torno de R$ 570 milhões) na Choren, diz Tom Blades, que dirige a empresa há quatro anos. O experiente britânico, que antes trabalhava para a gigante de perfuração Schlumberger, acabou sendo a pessoa certa para uma das grandes missões diplomáticas da empresa: uma companhia de petróleo tinha que entrar, de preferência uma que fosse líder na área de tecnologia verde.

Blades precisou de pouco mais de um ano. No verão de 2005, a Shell adquiriu uma participação da empresa. A corporação de petróleo contribuiu com um componente chave no processo de refinamento, a tecnologia Fischer-Tropsch, que converte o gás em combustível BTL (das iniciais em inglês para "biomassa para líquido").

Os pesquisadores do conglomerado petrolífero parecem completamente convencidos: "O BTL é um combustível dos sonhos, o melhor de todos os combustíveis", diz Wolfgang Warnecke, diretor da Shell Global Solutions, em Hamburgo.

Novas tecnologias, novas necessidades
Até o final do ano, a fábrica da Freiberg entrará em operação, alimentada innicialmente por pedaços de lenha velha e outros descartes. Ela precisará de aproximadamente cinco toneladas de material seco para produzir uma tonelada de combustível. A pequena refinaria consumirá cerca de 70.000 toneladas de madeira descartada por ano. "Achamos que será bem fácil conseguir essa quantidade", diz Michael Deutmeyer, responsável por fornecer biomassa à Choren.

Será consideravelmente mais desafiador suprir as necessidades de matéria-prima das refinarias de grande escala que a Choren planeja construir. A primeira dessas grandes plantas deve entrar em operação em 2012, na cidade alemã oriental de Schwedt, perto da fronteira com a Polônia. O projeto é produzir 200.000 toneladas de diesel BTL por ano -e devorar um milhão de toneladas de madeira e outros materiais secos. Os produtos descartados não serão suficientes para satisfazer esse voraz apetite.

Para atender à maior demanda, Deutmeyer está planejando plantar árvores. A madeira é a matéria-prima mais adequada para o processamento do biocombustível. Há três anos, a Choren converteu 20 hectares a oeste de Schwerin, capital do Estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, em plantações experimentais de "rápido crescimento de broto para a serra", onde salgueiros e outras árvores de rápido crescimento estão crescendo.

Tais cultivos, diz Deutmeyer, requerem quantidade significativamente menor de pesticidas e fertilizantes do que a canola. Esse tipo de reflorestamento também obtém subsídios públicos consideráveis. O Ministério de Agricultura no Estado de Brandenburgo já indicou que vai dedicar fundos do governo para plantações destinadas a fornecer madeira para uma planta a ser construída em Schwedt. Até 45% dos investimentos para mudas, preparações e medidas de melhoramento do solo derivarão dos cofres estaduais.

Os campos experimentais em Mecklenburgo já foram colhidos uma vez, as árvores reduzidas a lascas de madeira por uma cortadeira especial da Suécia. Os resultados parecem bem promissores. Podem ser obtidas colheitas anuais de até 20 toneladas de material seco por hectare em bons solos. Isso daria uma produção máxima de quatro toneladas -ou 5.000 litros- de diesel BTL. Até agora, os campos de canola em área comparável deram apenas 1.500 litros.

Com números como esses, o BTL é o primeiro combustível liquido vegetal que pode constituir uma substituição viável para combustíveis fósseis sem competir diretamente com a produção de alimentos. De acordo com o FNR, até seis milhões de hectares de terra na Alemanha podem ser usados para plantas de produção de energia. Isso corresponde a mais de um terço da área atualmente usada para a agricultura. A agência diz que a área pode formar a base dos produtos BTL e satisfazer um quarto das necessidades de combustível da Alemanha. Em uma escala européia, o potencial de substituição pode chegar até 40%, primariamente devido às vastas áreas disponíveis nas novas nações da UE na Europa Oriental.

Chances no interior americano
Outras partes do mundo oferecem terras ainda vastas. Em comparação com a Alemanha, que tem densidade populacional relativamente alta, os EUA têm sete vezes mais terras aráveis por habitante. O governo Bush recentemente vem tentando usar políticas de agro-energia em um esforço para reduzir a dependência deplorável do país sobre as importações de petróleo estrangeiro. Sob o grito de guerra "combustível de liberdade", o governo americano até agora colocou seu dinheiro no etanol derivado da agricultura. O etanol é um dos produtos mais fáceis de se obter com a biomassa, mas também fica entre os menos eficientes.

Vastos trechos de terra já foram desperdiçados nessa empreitada. Estados celeiros como Iowa vêm alimentando refinarias que saciam os carros americanos. Há atualmente 139 usinas de álcool operando ou sob construção nos EUA. Como resultado, os preços dos grãos dispararam, o que -entre outros problemas- já gerou uma crise de tortilhas no México, na medida em que o milho se torna inacessível. O álcool, entretanto, se provou um fraco substituto para a gasolina e capturou apenas uma pequena percentagem do mercado de combustível.

Agora, pouco antes do final de seu segundo mandato, aparentemente os estrategistas de energia reconheceram seu erro. De acordo com um artigo de estratégia recentemente publicado pelo Congresso dos EUA, há planos de aumentar a mistura de biocombustíveis nos EUA em sete vezes, para 136 bilhões de litros. Entretanto, isso não será baseado nas antigas tecnologias. A estratégia, que agora também é oficialmente apoiada por Bush, prevê crescimento mínimo para biocombustíveis convencionais. Por contraste, quase dois terços da produção planejada serão atendidos por biocombustíveis avançados de tecnologias de segunda geração.

Promovendo novas tecnologias
Os pesquisadores americanos estão se concentrando primariamente no álcool de celulose, uma tecnologia enzimática que converte o capim e a madeira em açúcar e, depois, em álcool. Qualquer coisa com alto conteúdo de celulose pode ser usada, inclusive refugos da agricultura e das florestas, que produziriam rendimentos muito maiores por área plantada. A perspectiva de produzir álcool com esse método atraiu a atenção da Shell, que comprou uma participação da produtora de enzimas canadense Logen. Até agora, entretanto, essa parceria só produziu projetos de pesquisa e de viabilidade, mas não refinarias.

É aí que a Choren tem clara vantagem. A tecnologia alemã está pronta para a produção. E isso levou os americanos, tradicionalmente fixados na gasolina, a se interessarem pelo diesel BTL. Em uma competição no ano passado entre 146 concorrentes, a Choren emergiu como a única empresa estrangeira em um grupo de vencedores a oferecer novas tecnologias. Washington quer promover essas novas tecnologias rapidamente e efetivamente -e sem o lápis vermelho.

O diretor da Choren, Blades, diz que uma agência do governo americano avaliou sua empresa em apenas nove meses. Logo depois, veio uma garantia de empréstimo de 90% dos custos de uma instalação de BTL em território americano.

A história foi outra com as agências burocráticas alemãs. Em 2004, a empresa pediu um empréstimo cobrindo 30% dos investimentos. O processo se arrastou por dois anos e, no final, tornou-se totalmente supérfluo: a Choren não precisava mais da garantia do Estado.


(Por Christian Wüst, Der Spiegel, tradução de Deborah Weinberg, UOL, 17/04/2008)


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