Os países em desenvolvimento rejeitaram na quarta-feira (16/04) a possibilidade de adotarem limites para a emissão de gases do efeito estufa apenas em setores como o do aço e do cimento, afirmando durante negociações lideradas pelos EUA que tais metas acabariam por sufocar suas empresas.
Outros países mostraram-se preocupados com a necessidade de que tais metas, defendidas pelo Japão como um elemento factível dentro de um tratado mundial sobre o clima a ser adotado após 2012, sejam um complemento aos grandes cortes que devem ser realizados pelos países industrializados.
No total, 17 países, a Comissão Européia (Poder Executivo da União Européia, UE) e a Organização das Nações Unidas (ONU) vão se reunir na quinta-feira (17) e na sexta (18), em Paris, para a terceira rodada de uma série de encontros convocada pelos Estados Unidos para encontrar formas de diminuir a emissão de gases do efeito estufa.
Na quarta-feira, em uma mesa de trabalho preliminar encarregada de avaliar se a indústria poderia adotar metas setoriais, coube à Índia liderar as objeções. Os planos dos países ricos sobre diminuir as emissões "não deveriam ser diluídos por uma postura setorial", disse R. Chidambaram, principal conselheiro do governo indiano para as questões científicas.
Segundo Chidambaram, há setores indianos que se contavam entre os mais limpos do mundo ao passo que outros tinham taxas muito mais altas de consumo de energia. "Não se pode criar uma política mundial que acabará por sufocar esses outros." O Brasil também afirmou, durante o encontro, que os países ricos deveriam concentrar-se principalmente em diminuir suas próprias emissões.
As negociações em Paris são a terceira de uma série convocada para dirimir as críticas de que o presidente dos EUA, George W. Bush, não se empenha no combate às mudanças climáticas. O dirigente não permitiu que seu país aderisse às metas de corte do Protocolo de Kyoto, que deixa de vigorar em 2012. Em Washington, uma autoridade afirmou que Bush pretendia convocar uma paralisação do aumento das emissões a partir de 2025 - um plano muito mais tímido do que o defendido pela maior parte dos países do mundo.
"Acreditamos que a postura setorial oferece uma solução", afirmou Olivier Luneau, da fabricante de cimento Lafarge . Richard Baron, da Agência Internacional de Energia, disse que metas mais duras para apenas uma parte do setor industrial, como o do aço ou alumínio, poderiam favorecer países que ignoravam os limites. "Nossa preocupação é com a possibilidade de tais esforços serem anulados por um aumento das emissões fora das regiões onde há limites", disse.
A respeito do aço, por exemplo, Hiroyuki Tezuka, da JFE Steel Corp, argumentou que os limites de emissão precisam ser globais a fim de funcionarem já que 40 por cento do metal eram comerciados em mercados internacionais. Se houvesse apenas regras regionais, o resultado final seria um desastre. A demanda por aço seria atendida com o aço fabricado por meio de grande emissão de gás carbônico. É por isso que precisamos adotar um ângulo setorial, afirmou.
(Estadão Online, Ambiente Brasil, 17/04/2008)