A agricultura industrial e os organismos geneticamente modificados (OGMs) não são a solução para combater a fome no mundo, a pobreza e as mudanças climáticas, e os governos devem incentivar práticas agrícolas mais sustentáveis, como a agro-ecologia. É preciso trabalhar com a natureza para produzir mais e melhores alimentos. As conclusões são do Relatório Internacional sobre Ciência e Tecnologia Agrícola para o Desenvolvimento (IAASTD, na sigla em inglês), elaborado por centenas dos melhores cientistas do mundo do setor.
O documento vem sendo discutido desde 2005 e foi ratificado em reunião realizada na última semana (de 7 a 12 de abril) em Joanesburgo, na África do Sul, por representantes de 60 países, que assinaram a versão final do texto, que pretende guiar as prioridades futuras de governos, agências da ONU e órgãos financiadores em relação à agricultura e desenvolvimento. O texto pode ser acessado aqui.
O documento recomenda também a adoção de pequenas propriedades e métodos agro-ecológicos como forma de se combater a atual crise alimentícia no mundo e suprir as necessidades de comunidades locais, declarando o conhecimento indígena e local tão importantes como a ciência formal.
Oportunidade Única
Para o Greenpeace, o relatório é uma oportunidade história para substituir uma prática destrutiva por métodos que trabalhem com a natureza, não contra ela. O texto traz críticas contundentes às práticas agrícolas atuais e também à indústria de biotecnologia e seus transgênicos.
Os Estados Unidos, Canadá e Austrália foram os únicos países presentes ao encontro (uma espécie de IPCC da agricultura) a não assinarem o documento, alegando ser ele 'desequilibrado'. Eles acusam os autores de não serem independentes, mas curiosamente só fizeram tais críticas agora, depois que o texto foi publicado - os três países participaram da escolha dos autores do documento.
“Esse relatório mostra que podemos produzir mais e melhor sem destruir a natureza e nossos recursos naturais. Soluções modernas de cultivo trabalham a favor da biodiversidade, geram muito emprego e protegem a natureza”, afirma Gabriela Vuolo, coordenadora da campanha de Engenharia Genética do Greenpeace Brasil.
Revolução Agroecológica
“Esse relatório é um chamado para que governos e agências internacionais redirecionem e aumentem seus financiamentos para uma revolução na agricultura que é essencialmente agro-ecológica.”, afirma Benny Härlin, do Greenpeace Internacional, que participou do IAASTD.
O IAASTD é uma iniciativa do Banco Mundial em parceria com um grande grupo de organizações, incluindo a Organização para Alimentação e Agricultura da ONU (FAO), Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP), Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), Organização Mundial de Saúde (OMS) e representantes de governos, sociedade civil (como o Greenpeace), setor privado e instituições científicas de todo o mundo.
(Greennpeace, Eco Agencia, 16/04/2008)