Apesar de a Fundação Nacional do Índio (Funai) alegar que há unanimidade das entidades indígenas de Roraima em favor da retirada dos não-índios da Raposa Serra do Sol, líderes não conseguiram demonstrar que pensam da mesma forma após encontro terça-feira (15) com o advogado-geral da União, José Antonio Dias Toffoli.
A reunião foi solicitada pelos indígenas que pediram mais informações sobre como o governo pretende trabalhar em relação ao julgamento de ações ainda pendentes no Supremo Tribunal Federal (STF) e que contestam a homologação da área.
O vice-presidente da Sociedade dos Índios Unidos em Defesa de Roraima (Sodiur), Sílvio da Silva, disse que aceita a saída dos produtores desde que isso seja determinado pela Justiça. Mas lembrou que a mesma regra teria de ser aplicada a outros não-índios que atuam na reserva.
“Vai ter que sair padre e gringos que atuam nas comunidades. Em algumas, a gente vê caboclo loiro, que é filho de americano e italiano. Por que eles vão ficar lá se estão tirando o cidadão brasileiro que está plantando, produzindo e dando emprego”, questionou.
Silva também disse que se os arrozeiros saírem, o governo federal precisa dar melhores condições para os indígenas produzirem.
O tuxaua da comunidade São Miguel e dirigente do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Valter de Oliveira, concordou que a assistência do estado às comunidades é “insuficiente”, mas contestou as declarações do colega sobre a presença de estrangeiros nas comunidades.
“Se é para fazer arrastão, que se faça levantamento de todos os não-índios, inclusive dos pastores. Agora queria saber quem são esses gringos. Quem diz que tem gringo na terra indígena tem que falar onde eles estão.”
O presidente da Funai, Márcio Meira, negou que falte assistência governamental adequada na Raposa Serra do Sol. “ Já liberamos R$ 1 milhão para projetos de agricultura na área, com feijão, arroz e mandioca”.
Líderes de comunidades ligadas ao CIR relataram que a suspensão da Operação Upatakon 3 resultou em danos psicológicos e morais para os índios que defendiam a saída dos arrozeiros. E disseram estar com a “paciência esgotada”.
O advogado-geral da União reiterou aos líderes que o governo federal empreenderá todos os esforços para que a Justiça mantenha a demarcação da terra indígena de Raposa Serra do Sol em área contínua e autorize a retirada dos não-índios. Mas recomendou unidade às entidades.
“É necessário que se tenha claro que toda comunidade indígena de Roraima se posiciona pela homologação. Isso é importante para defesa do governo junto ao Supremo Tribunal Federal.”
(Radiobrás,
Amazonia.org, 16/04/2008)