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emissões de co2
2008-04-16

O plantio de árvores para neutralizar a emissão de CO2 de empresas ou eventos tem sido uma ferramenta de Marketing tão forte que faz com que muitos consumidores percam a visão da importância dessa iniciativa. Pelo processo da fotossíntese, as florestas absorvem e estocam o carbono da atmosfera, dessa maneira, contribuem para combater o aumento do efeito estufa e o aquecimento global.

Cientes dos benefícios ambientais do reflorestamento, muitas empresas passaram a prestar serviços de consultoria nessa área. Apesar de aparentemente a iniciativa só trazer benefícios para a sociedade e o meio ambiente, a falta de padrões faz com que, em alguns casos, o processo seja desvirtuado. A tendência agora é que as empresas mostrem a sua responsabilidade por ações que vão além do plantio de árvores.

“Para que realmente seja benéfica ao meio ambiente e ao clima global, a compensação de emissões não deve ser adotada como uma solução única”, afirma o diretor de meio ambiente da ONG Iniciativa Verde, Osvaldo Stella. Ele entende que o plantio de florestas deve entrar como última alternativa na lista de ações para tornar o consumo mais consciente. “Em nossas parcerias, primeiro realizamos um inventário de emissões e, em cima disso, trabalhamos os conceitos de ‘reduzir’, ‘reutilizar’ e ‘reciclar’. Somente as emissões inevitáveis são compensadas com o plantio de árvores”, explica.

O processo de restauro ambiental realizado pela Iniciativa Verde dura, em média, 30 meses, com o plantio e a manutenção de espécies nativas em áreas de preservação permanente de mata ciliar.

Para se definir o número de árvores a serem plantadas, calcula-se a quantidade de carbono emitida durante um evento, por exemplo. As florestas plantadas levam 37 anos para alcançar o clímax de absorção de carbono.  Nesse período, cada hectare de árvore é capaz de neutralizar 80 toneladas de CO2 da atmosfera.

Stella conta que além de reflorestar áreas desmatadas e contribuir para o clima do planeta, o plantio de árvores traz consigo uma série de benefícios ambientais, como a preservação de cursos de água, conservação da biodiversidade (restaurando o habitat de várias espécies de flora e fauna e possibilitando o intercambio genético); conscientização, mudança de comportamento e geração de renda no campo.

O diretor acredita ser fundamental esclarecer a população da necessidade de agir de forma pró-ativa para reduzir as emissões dentro de casa ou no trabalho, ao invés de esperara apenas pela compensação.

O plantio de árvores não é uma solução definitiva para o efeito estufa, esclarece. “Para resolver esse problema é preciso mudar os hábitos da sociedade que está acostumada com facilidades como carros poluentes e aparelhos de ar-condicionado que consomem energia elétrica”.

Por se tratar de iniciativas voluntárias, o mercado de neutralização de emissões com plantio de árvores não recebe nenhuma regulamentação, o que favorece a ocorrência de fraudes. Há registros de empresas que prometeram compensar emissões com árvores que nunca foram plantadas. Há casos também de florestas derrubadas antes de se completar o período necessário para a compensação e, até mesmo, de empresas que subestimaram a quantidade de árvores necessárias para o plantio, dando uma falsa idéia de neutralização das emissões.

Para se consolidarem no mercado, as empresas que trabalham com compensação precisam agir de maneira honesta, pois cada vez mais os resultados das suas ações serão cobrados pela sociedade.

Leia a entrevista com o diretor da ONG Iniciativa Verde, Osvaldo Stella:

Compensar emissões não pode se tornar uma forma fácil de livrar-se da culpa?
A redução antes de tudo é essencial para qualquer que seja a forma de compensação. Então o objetivo principal e o anterior a qualquer coisa é trabalhar a questão da educação ambiental e da redução de emissões. A compensação deve ser aplicada em cima do inevitável, das emissões inevitáveis.

Com o surgimento desse novo mercado, muitas empresas aproveitaram a onda da neutralização de emissões para fazer Marketing. Como você vê o comportamento das empresas hoje em relação às atitudes de redução, reutilização, reciclagem e eficiência energética? Elas estão mais conscientes?
No nosso caso, oferecemos os elementos principais para que a empresa tome essa decisão. Nós não temos o poder de mudar a política de gestão de uma empresa. O que fazemos é, a partir principalmente dos inventários de emissões, fornecer um instrumento para que a empresa se decida pelo caminho que quer trilhar. Nós a auxiliamos desde o inventário até o plantio das árvores nesse processo de melhoria de eficiência, gestão ambiental e comprometimento com um diferencial em relação ao meio ambiente.
A maioria das empresas com que atuamos tem trabalhado nesse sentido porque elas entendem que reduzir emissão e produzir de maneira mais eficiente significa também redução de custos dentro da empresa. Quando a empresa entende que, ao reduzir o seu consumo de combustível, passa a gastar menos para produzir o mesmo tipo de material, de bens e equipamentos, fica mais fácil de comunicar esse benefício.

Sobre o cálculo das árvores necessárias para se compensar a emissão de uma tonelada de CO2. Por que há empresas que chegam a números completamente diferentes?
Para uma empresa, quanto menor o número de árvores a serem plantadas, melhor, porque assim o custo do projeto também é menor. Então, utilizam-se valores irreais para o tipo de cobertura vegetal onde essas árvores são plantadas.
A questão do número exato de árvores para se tirar uma tonelada de CO2 da atmosfera varia em função do tipo de floresta e do tempo do projeto, mas já existe uma série de estudos divulgando esses valores. Quando uma empresa utiliza um valor muito baixo de árvores, é simplesmente para tornar o projeto mais barato.

A Iniciativa Verde iniciou no Brasil o debate a respeito do cálculo correto da quantidade de árvores necessárias. Existe um valor padrão?
Para o bioma Mata Atlântica nas áreas de floresta estacional semidecidual, a quantidade de cinco a seis árvores é um número honesto.

Uma floresta plantada alcança o seu clímax em 37 anos. Como vocês fazem para garantir a preservação dessas árvores durante todo esse período, uma vez que o trabalho de restauro concentra-se nos 30 primeiros meses?
O que fazemos é promover o restauro florestal com todos os cuidados necessários para que a floresta atinja um docel (cobertura de copa) suficiente para que o mato não se desenvolva. O plantio em área de preservação permanente e de mata ciliar conta com um amparo legal no sentido de que qualquer desbaste dessas áreas é considerado um crime ambiental.
Então, uma vez implementado esse restauro (que é registrado, por exemplo, no DPRM – órgão ambiental responsável no estado de São Paulo), qualquer atitude de supressão de vegetação pode ser prontamente verificada e o responsável poderá ter que restaurar o que foi devastado.
Obviamente, não podemos ter o controle absoluto do que acontece, mas procuramos nos resguardar ao limite que o cenário institucional oferece.

O que vocês fazem para tentar tornar o processo de plantio e desenvolvimento das árvores mais seguro?
A primeira ação é conseguir uma carta de anuência do proprietário, ou seja, o proprietário da terra assina um documento pelo qual ele concorda que a área de preservação permanente de mata ciliar da sua propriedade seja reflorestada.
Em segundo lugar, esse reflorestamento é registrado no órgão ambiental responsável. A área é isolada com cercas e depois disso inicia-se o processo de restauro florestal, que dura 30 meses. A partir daí, se nenhuma atitude premeditada for tomada em relação aquele fragmento, a tendência é de a floresta se desenvolver.

O senhor acredita que existem outros meios tão eficazes quanto o plantio de florestas para se compensar emissões de carbono? Qual a sua opinião sobre investimentos em projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo para esse fim?
Utilizar créditos de carbono para compensação de emissão é algo um pouco frágil do ponto de vista prático, pois esses créditos de carbono são gerados com o objetivo de ajudar empresas dos países desenvolvidos a cumprirem metas. Esses créditos de carbono são direcionados para empresas de países partes do Anexo I do Protocolo de Quioto cumprirem suas metas de redução de emissões.
Quando eu utilizo um crédito de carbono como forma de compensação, eu estou utilizando um título que de qualquer maneira seria absorvido pelo mercado. Então não é uma atitude adicional.
O plantio de árvores é uma iniciativa completamente voluntária, que, além de promover a retirada do CO2 da atmosfera, fornece um pacote de serviços ambientais e sociais.

E quais seriam esses benefícios?
Com a compensação de emissão utilizando o plantio de árvores existe uma série de benefícios em toda a cadeia do sistema, como a geração de emprego no campo –  que vai desde a coleta de sementes até a produção de mudas e a implementação dos restauros.
Os restauros florestais quando implantados em área de preservação permanente de mata ciliar promovem a preservação do recurso hídrico, combatendo a erosão e permitindo uma recarga de aqüífero melhor; além de construir corredores de biodiversidade que contribuem para a manutenção e diversidade das espécies.
Por se tratar de um mercado voluntário, o plantio de árvores para se compensar emissões não é regulamentado nem fiscalizado, o que abre espaço para fraudes. Quais seriam as suas sugestões para uma empresa que deseje neutralizar emissões de forma segura?
Dentro da Iniciativa Verde e do programa Carbon Free todos os projetos que fazemos ficam disponíveis em nosso site - tanto a parte de inventário de emissões, quanto a localização e as características técnicas dos restauros ambientais. Essa é uma maneira de os nossos parceiros poderem rastrear os próprios projetos.
Paralelamente a isso, nós trabalhamos junto com o poder público no sentido de definir alguns critérios para os projetos de compensação de emissão - mas esse envolvimento do poder público não virá de forma obrigatória. Ele simplesmente vai estabelecer quais critérios considera benéficos para a sociedade num projeto de compensação. Os projetos que atenderem esses critérios receberão uma aprovação formal do poder público. Dessa maneira, melhora-se a qualidade dos projetos, porque infelizmente muitas empresas já se utilizaram desse modelo para gerar negócios e não para gerar benefícios.

(Carbono Brasil, 15/04/2008)


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