As pulverizações aéreas com agrotóxicos são realizadas no Espírito Santo com permissão do Instituto Estadual de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf). O veneno mais usado nas lavouras de café com o objetivo de combater a broca é o thiodan, que é muito tóxico. O veneno agrícola é empregado sem ter sua eficácia comprovada sequer para esta doença da planta do café.

A informação é de um pesquisador agrícola. Ele lamenta a prática e que o Idaf autorize o lançamento de venenos agrícolas por aviões de forma indiscriminada.

O pesquisador assinala que "infelizmente" sequer existe "pesquisa da eficiência dos agrotóxicos no café, pois não existe pesquisa seja do Incaper ou de qualquer outro órgão, como a Embrapa. Tudo é feito sem critério e o pior: aplica-se na hora errada para praga-broca".

Ele assinala que é usado o "thiodan, que e muito tóxico. É triste, mas só quando morrer umas 10 pessoas que a turma do Idaf e da Seag (Secretaria de Estado da Agricultura) vai ser acionada".

O uso de aviões para aplicações de agrotóxicos está se tornando comum no Espírito Santo. Até crianças em escolas foram bombardeadas, sem contar os trabalhadores rurais contaminados.

As agressões foram registradas em Jaguaré, norte do Estado. No município, mais de uma centena de moradores já foram contaminados com os agrotóxicos lançados por via aérea, segundo o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).

Há, ainda, destruição ambiental: as pulverizações são próximas à Reserva Biológica de Sooretama, e talvez atinjam a própria reserva, do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

A preocupação dos agricultores é grande. Decidiram que vão mobilizar toda a comunidade para uma reunião no próximo sábado (19), às 9 horas, na Escola Família Agrícola (EFA) de Jaguaré. Já foi acionada a Promotoria do Ministério Público Estadual (MPA) do município.

O MPA denuncia que aviões também foram empregados para lançar venenos agrícolas em Vila Valério e Linhares. Os venenos estão sendo aplicados em culturas de café, coco e de cana-de-açúcar.

Os venenos produzem doenças mortais, entre as quais alguns tipos de câncer, redução da imunidade e doenças genéticas. Provocam impotência sexual (que pode levar ao suicídio) e frigidez.

Dez mil trabalhadores morrem anualmente no Brasil contaminados pelos agrotóxicos. Os venenos agrícolas usados na produção de alimentos intoxicam 500 mil brasileiros por ano e, dos intoxicados, cerca de 10% ficam definitivamente incapacitados para o trabalho, o que totaliza uma perda de 50 mil trabalhadores/ano no país.

A despeito das desgraças que provocam, as transnacionais dos agroquímicos faturaram alto no Brasil: US$ 3,9 bilhões em 2006. Entre as transnacionais dos venenos agrícolas, a Bayer Cropscience Ltda, Dow Agrosciences Industrial Ltda, DuPont do Brasil S.A., Monsanto do Brasil S.A., Laboratórios Pfizer Ltda.; Rhodia Brasil Ltda; Syngenta - Proteção de Cultivos Ltda.
       
Venenos agrícolas podem ter causado intoxicação de escolares

Um total de 35 alunos da Escola Municipal Luís Semprini, em Pacotuba, Cachoeiro de Itapemirim, no sul do Estado, passaram mal após terem tomado água no bebedouro da escola.

Foram dois episódios, o último na manhã desta segunda-feira (14), quando 15 estudantes se intoxicaram e tiveram que ser levados para hospitais de Cachoeiro. Há suspeita de que a água estava contaminada por agrotóxicos.

No primeiro caso de intoxicação, na terça-feira (8), 20 crianças desta escola também passaram mal após tomar água no bebedouro da escola. A direção da escola suspendeu as aulas, e 500 alunos ficaram sem atividades.
              
(Por Ubervalter Coimbra, Século Diário, 16/04/2008)