O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu informação da Petrobras de que há "fortes indícios", segundo ouviu ontem a Folha no Palácio do Planalto, de que o campo Carioca tem mesmo enorme quantidade de petróleo. Faltam, porém, mais informações técnicas para a estatal confirmar a descoberta na bacia de Santos, bem como o potencial do campo.
O processo de descoberta do campo Carioca é semelhante ao do campo Tupi, segundo dados da Petrobras que chegaram ao Planalto. Lula foi informado a respeito de Tupi um ano antes da confirmação. Manteve segredo até a averiguação final.
A descoberta de Tupi foi anunciada no final de 2007. A Folha apurou que Lula pediu a um emissário que desse uma reprimenda em Haroldo Lima, diretor-geral da ANP.
O presidente, que havia considerado precipitado o anúncio feito anteontem por Lima, não gostou de suas declarações de ontem no Senado. E deu ordem para que ele fale menos.
Indicado por Lula para a ANP por integrar o PC do B, um partido da base de apoio do governo, Lima disse que tinha autoridade para falar da descoberta e que não tinha contas a prestar à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), espécie de xerife do mercado de ações.
O Planalto não gostou. Acha que Lima deveria obedecer ao ritual técnico-legal para evitar especulação financeira. O anúncio de anteontem ainda produzia efeitos ontem nas Bolsas.
Para a cúpula do governo, a repercussão do episódio mostra pouco cuidado técnico da parte de uma agência que deveria agir tecnicamente.
Ministros
O ministro Edison Lobão (Minas e Energia) voltou a descartar possibilidade de punição a Lima. "Há um código, há uma regra e uma orientação, mas isso tudo será visto no futuro." Para o ministro Paulo Bernardo (Planejamento), a divulgação foi ruim, mas não há necessidade de punição.
(Kennedy Alencar, Folha de São Paulo, 16/04/2008)