Lima diz que só repetiu dados de revistas especializadas sobre suposto megacampo
Diretor de agência culpa "especuladores" por "espalhafato" em torno de suas declarações sobre reservas da Petrobras
O diretor-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo), Haroldo Lima, negou que tenha anunciado um novo megacampo de exploração de petróleo na bacia de Santos, com reservas de 33 bilhões de barris. Ele culpou "especuladores" pelo que considerou um "espalhafato" feito na imprensa. Disse ainda que não se considera passível de punição pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
"Ninguém quis especular. Os especuladores é que quiseram especular. Uns ganharam, outros perderam. Os que perderam estão chateados e tentando mobilizar a imprensa para tentar criar um espalhafato em torno desse assunto", afirmou. "Eu sou autoridade e estava falando com um público especializado, eu não sou subordinado à Comissão de Valores Mobiliários de coisa alguma, eu sou membro do governo. O que eu não podia fazer, e não fiz, foi anúncio", completou.
Lima deu entrevista antes e depois de audiência pública no Senado sobre a política de distribuição de royalties do petróleo. Disse que os dados sobre a área (BM-S-9, ou Carioca) a que fez referência anteontem no Rio, estavam disponíveis desde dezembro na imprensa especializada dos EUA ("Next Energy" e "World Oil").
Lima avaliou que não pode ser responsabilizado pela forte alta nas ações da Petrobras na segunda-feira. "Isso não é um problema meu. É um problema da Bolsa de Valores. Eu nem sei onde fica essa tal Bolsa de Valores", afirmou. "O pessoal não lê [revista especializadas] aqui no Brasil, sobretudo o pessoal vinculado à Bolsa, que não está interessado nisso, querem ganhar dinheiro. Pois bem, não leram o que está publicado na revista americana desde fevereiro", disse.
Na audiência pública, ele foi criticado por apenas dois senadores. "Uma coisa é comentar [sobre possíveis reservas] em um botequim, outra é o diretor-geral da ANP falar. As declarações de vossa excelência foram perigosas e tiveram reflexos", disse Francisco Dornelles (PP-RJ). "É lamentável que o senhor diga que não conhece a Bolsa de Valores", disse Flexa Ribeiro (PSDB-PA). Os demais pouparam Lima, que é filiado ao PC do B, e consideraram suficientes suas explicações.
Petrobras
O diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrella, que participou da mesma audiência, evitou polemizar e considerou a reportagem da revista "World Oil" um "palpite".
"Não existe [Carioca/Pão de Açúcar]. Nós estamos no processo de avaliação da descoberta, preparando-nos para testar o poço. Só após esse período de avaliação é que podemos iniciar a pensar nas estimativas de volume", disse. Segundo ele, dados mais concretos poderão ser conhecidos em três meses. "Não posso considerar um dado importante um palpite de uma revista."
"Bancos, pessoas, revistas estimam. Não posso especular sobre o que os levou a fazerem essa estimativa [reserva de 33 bilhões de barris]. Mas não tem nada de técnico nisso", disse.
(Humberto Medina, Folha de São Paulo, 16/04/2008)