Segundo o BNDES, 40% dos empréstimos com fins socioambientais são dados a companhias pequenas e médias
As linhas de crédito socioambiental no Brasil estão crescendo entre as pequenas e médias empresas. Essas linhas, específicas para negócios que planejam investir em melhorias ambientais, também ajudam a financiar empreendimentos com uma vertente em sustentabilidade, como empresas de energias renováveis, alimentos orgânicos e madeira com certificação florestal.
"Estimamos que hoje 40% do chamado crédito socioambiental seja tomado por empresas de pequeno e médio porte", afirma Eduardo Bandeira de Mello, chefe do Departamento de Meio Ambiente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O banco lançou, em 2006, uma política de crédito com esse perfil, que repassa recursos para instituições financeiras e também financia diretamente os empreendimentos. "No caso das pequenas e médias, a maior parte do dinheiro é tomado via bancos privados, com recursos do BNDES", diz Mello.
No Banco Real, que possui linhas de crédito socioambiental desde 2002, já foram emprestados em torno de R$ 700 milhões para empresas de pequeno e médio portes. "Hoje isso representa 10% da nossa carteira de médias empresas, que está em torno de R$ 7 bilhões. Mas a expectativa é dobrar essa carteira até o final de 2008", diz Altair Assumpção, superintendente executivo de médias empresas do Banco Real.
Nos últimos dois anos, a demanda por esse tipo de crédito aumentou 50%. Segundo o executivo, a demanda por linhas de crédito ambientais é maior por parte das médias empresas, mas já começa a chegar às pequenas. "Hoje a maior parte dos empréstimos financia a solução de problemas ambientais. É um momento de correção de rumo: elas querem produzir mais gerando menos impacto no meio ambiente."
PIONEIRISMO
Idacir Peracchi, presidente da Juruá Florestal, empresa de manejo florestal e produtos de madeira localizada em Ananindeua (PA), já é um veterano na tomada desse tipo de empréstimo. O empresário foi um dos pioneiros na Amazônia a obter a certificação florestal FSC, selo internacional que comprova que a madeira comercializada é proveniente de áreas de exploração controlada.
Para custear o processo de certificação, há quatro anos, tomou emprestado R$ 1,9 milhão do Banco da Amazônia. Depois, pegou outros dois financiamentos, de R$ 1,2 milhão e de R$ 2,5 milhões, com o Banco Real, para financiar a geração de energia elétrica na própria fábrica, em Belém. Hoje, 90% da energia utilizada na indústria vem da queima de restos de madeira, a biomassa.
"Sem a certificação florestal e outros cuidados ambientais, não teríamos acesso a mercados como Holanda, Bélgica e Estados Unidos", diz Peracchi. A empresa faturou R$ 40 milhões em 2007, sendo R$ 30 milhões só com exportações.
Ainda não se conhece o tamanho do mercado de crédito socioambiental no Brasil. O economista Gustavo Pimentel, do Núcleo de Finanças Sustentáveis da ONG Amigos da Terra está realizando o primeiro levantamento desses dados no País. "Ninguém fez essa conta ainda, já que cada banco usa parâmetros diferentes na definição do que é crédito socioambiental", explica. "Entre os bancos privados essa carteira ainda é incipiente e não deve chegar a R$ 1 bilhão", diz. Segundo Mello, do BNDES, a estimativa de desembolso para linhas ambientais em 2008 é de R$ 4 bilhões.
(O Estado de São Paulo, 16/04/2008)