A chuvarada que caiu na madrugada de sábado para domingo praticamente normalizou o nível das águas da Lagoa do Peixe, uma área protegida no Litoral Sul do Rio Grande. A região vem sofrendo a cada verão com longos períodos de estiagem provocando a morte de milhares de peixes.
Só na ultima contagem, na semana passada, o Ibama gaúcho estima que tenham morrido cerca de duas toneladas de tainhas, linguados e outros que dividiam o pouco oxigênio na fina lâmina de água que cobria a lagoa.
A chefe do Parque Nacional da Lagoa do Peixe, Maria Teresa Queiroz Melo, explica que a lagoa já estava aproximadamente 96% seca e que, desde 2004, quando assumiu o cargo, não via uma situação tão crítica. Claro que em outras épocas houve fenômenos semelhantes, mas segundo ela, o que se percebe é que os intervalos entre esses desastres têm sido cada vez menores.
A Lagoa do Peixe, na verdade, uma laguna ligada com o mar praticamente durante todo o ano, fica no município de Tavares. Riquíssima em biodiversidade tem mais de 30 quilômetros de extensão e serve como um grande “restaurante” para aves migratórias.
Plantações de pinus Um complicador para esses períodos de estiagem é o plantio extenso de pinus no entorno da lagoa. O problema é antigo, se começou a plantar essa árvore exótica na região há mais de 30 anos e, embora, engenheiros florestais repetidamente afirmem que essa atividade não traz prejuízos à lagoa, o pinus se reproduz sozinho, e acaba se multiplicando sem muito controle. “Como toda planta, o pinus necessita de água e com sua raiz profunda acaba alcançando facilmente o lençol freático que no local é bastante raso”, argumenta Maria Teresa. A questão, conforme a técnica do Ibama, não é o plantio do pinus em si, mas sim a grande quantidade de árvores.
Existe uma ação civil pública no Ministério Público Federal proibindo o plantio de pinus no entorno da Lago. Embora os responsáveis pelo plantio sejam empresas particulares, o Ibama é réu no processo. Maria Teresa comenta que o órgão ambiental foi responsabilizado porque deveria ter controlado a atividade. “Quem planta são empresas particuladas há mais de 30 anos numa época onde havia incentivo fiscal do governo”, explica. A solução do MPF, diz a técnica, é a realização de um ordenamento para essa atividade. Desde o ano passado o Ibama vem elaborando um plano que não vai extinguir o pinus já plantado, mas sim ordenar o seu plantio. “De cada 100 hectares, sem controle, formam-se mais 100 hectares”, justifica Maria Teresa.
O pinus plantado na região é destinado à comercialização de madeira e MDF. O que acabou gerando um outro problema. A destinação desses resíduos. A chefe do parque salienta que hoje muitas madeireiras já vem utilizando esses dejetos também na produção de MDF, ou mais recentemente na queima de caldeiras para geração de energia. “Hoje para se obter a licença do plantio é obrigatório apresentar uma solução para os resíduos gerados”, afirma.
Desde 1991, a Lagoa do Peixe passou a integrar a Rede Hemisférica de Reservas para Aves Limícolas , adquirindo relevância mundial na conservação de aves migratórias. Em 1999, a região foi considerada como posto avançado do Comitê Nacional de Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, título concedido pela UNESCO, que reconhece a importância de determinados ecossistemas para a biodiversidade do planeta.
(Por Carlos Matsubara, Ambiente JÁ, 16/04/2008)