Limpar o lixo das ruas de Nápoles e arranjar uma solução nacional para a compra da transportadora aérea Alitalia são as duas primeiras medidas que o Governo liderado por Silvio Berlusconi vai tomar. A garantia foi ontem dada pelo vencedor das legislativas, depois de, na véspera, ter apresentado também como prioridades a criação de um exército do bem para proteger os cidadãos e a expulsão de imigrantes ilegais de Itália.
Berlusconi, de 71 anos, indicou que vai realizar o seu primeiro Conselho de Ministros em Nápoles, cidade do Sul de Itália onde a crise do lixo até já levou à contaminação da Mozarella com dioxinas. Isto porque a Mafia que controla a recolha e o tratamento do lixo usa, muitas vezes, o campo para o enterrar, causando a contaminação da água, solo e ar.
O líder do partido O Povo da Liberdade não desvendou, porém, a composição do seu Executivo, o terceiro que chefia em 14 anos. Mas é sabido que Berlusconi pretende chamar para o Ministério dos Negócios Estrangeiros o actual comissário europeua para a Justiça, Liberdade e Segurança, Franco Frattini, e para o Ministério da Economia o seu fiel aliado Giulio Tremonti. Num Governo com 12 ministros haverá pelo menos quatro mulheres, entre as quais a ex-modelo Mara Carfagna, que ficará com a pasta da Família.
Gianfranco Fini será o novo presidente da Câmara dos Deputados, substituindo Fausto Bertinotti, o líder da Esquerda Arco-Íris, uma coligação entre comunistas e verdes. Os analistas consideram que a paisagem política italiana saiu profundamente alterada destas eleições, com a tendência para o bipartidarismo a roubar a representação parlamentar à esquerda radical, pela primeira vez depois da II Guerra Mundial.
A Liga Norte, separatista, terá direito a pelo menos dois ministros: Roberto Maroni no Ministério do Interior e Rosi Mauro no do Trabalho. Além de que o seu presidente, o populista Umberto Bossi, deve ser um dos dois vice-primeiros-ministros. A Liga Norte já prometeu que não vai fazer Berlusconi refém, mas também insistiu, por outro lado, na questão do federalismo em Itália. Ao ter conseguido 60 deputados e 25 senadores este partido torna-se um aliado indispensável para Il Cavaliere.
No que respeita às medidas económicas, a que a UE está atenta, dado o historial de luta contra a fraude fiscal do vencedor das eleições, Berlusconi ainda não explicou como vai financiar as reduções de impostos que prometeu aos italianos. Na conferência de imprensa de ontem, o futuro primeiro-ministro, já felicitado por Sarkozy, Barroso e Bush, entre outros líderes mundiais, referiu a UE, sim, mas para lamentar que ela não tenha o peso que tinha no mundo como nos tempos de Aznar, Blair, Chirac e Schroeder.
(Por PATRÍCIA VIEGAS e GREGORIO BORGIA, AP, Sapo, 15/04/2008)