As cifras do Programa Hidrológico Internacional (PHI) da Unesco são contundentes. A região amazônica abriga ao redor de 15% da água doce utilizável do planeta. De seus 8 milhões de quilômetros quadrados de extensão, se calcula que 6,9 milhões formam parte da bacia do rio Amazonas.
Subsiste a crença equivocada de que a Amazônia é um imenso território praticamente desabitado. Cerca de 30 milhões de pessoas vivem nela, ainda que somente um milhão sejam indígenas. Mais de 60% vivem em centros urbanos.
Talvez o aspecto melhor conhecido da última grande selva tropical chuvosa seja relativo a sua incrível riqueza em diversidade biológica. Segundo a Unesco, aproximadamente 30% de todas as espécies animais e vegetais do mundo se encontram na região amazônica.
Esta estimativa é provável que seja baixa, se levarmos em conta que para muitos biólogos de reconhecida idoneidade, esta região abriga entre 5 e 30 milhões de espécies (Erwin, T. 1988), ainda que a ciência tenha classificado apenas um pouco mais de um milhão.
Para se ter uma idéia da riqueza biológica deste magnífico bioma basta mencionar algum exemplo. Na Amazônia peruana foi registrada a mais elevada concentração de espécies de árvores que se conhece, com 300 espécies em um hectare de terreno; e em uma mesma árvore se identificou 5 mil espécies de insetos.
Apesar de toda a ignorância que ainda temos, determinamos no meio de tanta abundância uma grande variedade de espécies úteis. Mais de 2 mil espécies de plantas foram já identificadas como úteis, a maioria delas conhecidas pelos indígenas por suas propriedades curativas e medicinais.
Também existem as de valor alimentício e produtoras de azeite, óleos, ceras, vernizes, aromas, taninos, látex, borrachas, condimentos, venenos, etc. E, por último, deixamos as árvores de valor madeireiro, pois a riqueza ascende a 4 mil espécies (“Amazônia sem mitos” – BID, Pnuma, TCA).
O que talvez não se perceba desde o ponto de vista das pessoas urbanas é que regiões como esta constituem um extraordinário e insubstituível laboratório biológico e ecológico para a vida na Terra. Pelo qual, sua conservação significa, nem mais e nem menos, um seguro de vida para a humanidade.
Outro aspecto-chave do sistema amazônico – em especial para o continente – tem a ver com o ciclo da água. Os 50% de vapor d’água existentes na Amazônia são transportadas para o oeste graças aos ventos provenientes do Oceano Atlântico. Os outros 50% provém da evapo-transpiração dos bosques em si.
A Cordilheira dos Andes atua como uma barreira natural suficientemente elevada como para obrigar toda essa umidade a viajar para o sul. Se esta dinâmica for alterada ou desaparecer, mudarão dramaticamente os regimes de chuvas dos ecossistemas localizados ao sul da grande selva. E com ele sua vegetação, sua fauna, a estrutura dos solos, etc.
Esta terrível variável poderia ativar-se como uma das conseqüências do aquecimento global. Há dúvida ainda se temos assuntos-chaves em jogo com a mudança climática? Por isso, quando se discute, negocia e decide o futuro da selva amazônica, está muito mais em jogo que proteger uma formosa paisagem ou aos povos indígenas que ali vivem. As decisões que tomemos nesta primeira metade do século XXI marcarão o rumo da humanidade.
(Por Hernán Sorhuet Gelós, Eco Agencia, 15/04/2008)
*O autor é jornalista no Uruguai e escreve artigos sobre meio ambiente para o jornal El País, de Montevidéo. Tradução de Ulisses A. Nenê, da EcoAgência.