Os governos dos países latino-americanos precisam adotar medidas para evitar que a alta global no preço dos alimentos agrave o problema da desnutrição nessa região, afirmaram na terça-feira autoridades da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). "Há um risco de que cada vez mais pessoas deixem de ter condições de adquirir alimentos básicos, aumentando a subnutrição nessa área do planeta", disse Fernando Soto, chefe regional de política para a FAO.
Os países americanos de baixa renda e importadores de alimentos -- a maior parte deles na América Central -- são os mais vulneráveis, disse Soto em meio a uma conferência da FAO sobre a América Latina e o Caribe. Em todo o mundo, o pão, o leite e outros tipos de comida tornaram-se mais caros, incentivando a inflação em alguns países. Distúrbios de rua provocados no Haiti pela alta dos preços do arroz, feijão e outros alimentos levaram à deposição do governo haitiano no sábado.
A América Latina produziu 40 por cento mais comida do que precisava, mas o problema é o desequilíbrio na distribuição de renda, disse José Graziano, representante da FAO para a América Latina e o Caribe. "Não deveria haver uma única pessoa faminta na América Latina, mas ainda assim há 50 milhões de desnutridos", afirmou Graziano. O Haiti era o único país da região com uma crise de alimentos tal que precisou de ajuda internacional imediata, observou o representante da FAO.
Especialistas atribuem a várias causas a elevação dos preços: maior demanda em mercados emergentes da Ásia, condições climáticas desfavoráveis em alguns países produtores e um aumento na utilização de milho para a produção de etanol nos EUA.
Especulações realizadas por alguns investidores aprofundaram o problema, afirmou Graziano, que aposta na manutenção dos preços em patamares elevados durante algum tempo.
"O recorde na colheita (mundial) de grãos pelo terceiro ano consecutivo não será suficiente para substituir os estoques baixos", disse. Entre as opções disponíveis, os delegados presentes na conferência discutiram a possibilidade de alguns países limitarem as exportações de alimentos e diminuírem os impostos cobrados sobre as importações. "É preciso haver um esforço para mitigar o problema", disse Soto.
Alguns delegados citaram como modelo o programa Fome Zero, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está ajudando a reduzir a pobreza em algumas regiões do Brasil. O Brasil é uma potência agrícola e o maior exportador mundial de vários produtos alimentícios. Espera-se ainda que a FAO recomende a seus países-membros o incentivo à agricultura familiar como uma forma de ampliar o suprimento de comida e a auto-suficiência. Em alguns países, os pequenos agricultores respondem por até 40 por cento da produção de comida.
(Por RAYMOND COLITT, REUTERS, 15/04/2008)