Falta de funcionários, de treinamento e precariedade na manutenção da fábrica. Estas são algumas das reclamações dos trabalhadores da unidade da Fosfértil no Paraná, localizada na cidade de Araucária. Os petroquímicos relatam que os atuais 450 funcionários são poucos para produzir e manter em segurança as duas mil toneladas de amônia e uréia que são fabricadas diariamente e as 10 mil toneladas de amônia estocadas.

Eles também afirmam que a proprietária da Fosfértil, a transnacional Bunge, não investe na manutenção da fábrica. O coordenador geral do Sindiquímica-PR, Paulo Roberto Fier, conta que em 1998 aconteceu uma explosão na fábrica que, por sorte, não feriu ninguém. Para o sindicalista, o fato reflete a falta de investimento da empresa.

"Para os trabalhadores, o que a empresa tem feito de lá para cá é uma política de estoque zero de peça. Quando há algum problema com a peça temos que remendar, porque não há peça. A redução de quadros, a terceirização, que conseguimos barrar no Ministério Público, que percebeu que era uma terceirização fraudulenta", diz.

Fier conta que as ilegalidades da administração da Bunge são claras. Em 2003, o Ministério Público, a partir de uma ação pública movida pelos trabalhadores, determinou que a multinacional contratasse mais funcionários. Na época, a unidade de Araucária, que já chegou a ter em torno de 700 trabalhadores, estava com apenas 300. O sindicalista também diz que a empresa reprime qualquer mobilização dos trabalhadores e não aceita negociar melhorias na fábrica.

A reportagem entrou em contato com a assessoria da transnacional, que até o fechamento da matéria não se pronunciou. "Os trabalhadores têm convivido com diversos vazamentos, precarização da manutenção, risco bem acima do que deveria ser. São essas as condições que os trabalhadores estão denunciando”, diz.

No final de Fevereiro o Sindiquímica-PR, com apoio de outros sindicatos e organizações de agricultores criou um comitê. O objetivo é aprofundar a questão da precariedade do trabalho que, segundo Fier, se tornou crítica com a privatização do setor de fertilizantes ocorrida há 15 anos. A Fosfértil, juntamente com outras quatro empresas, era uma estatal e pertencia à Petrobras.

No entanto foi vendida em 1992, quando a estatal decidiu privatizar seu setor de fertilizantes. Na época, a Fosfértil foi adquirida por diversas empresas pequenas e a Bunge, que adquiriu as demais ações e, hoje, controla a empresa. Quem perde, diz Fier, não são somente os trabalhadores.

"O que vem acontecendo com os fertilizantes nos últimos anos, após a privatização do setor, é o monopólio, que afeta tanto os trabalhadores quanto a sociedade em geral. Os trabalhadores sofrem a política da empresa dentro da fábrica. Já os consumidores sofrem porque o feijão e o arroz chega na mesa deles mais caro. E o produtor porque ele é obrigado a comprar fertilizantes de apenas um grupo, ficando refém desse grupo, não tendo outra alternativa de preço", argumenta.

(Por Raquel Casiraghi, Agência Chasque, 14/04/2008)