A rua sem acostamento, com carros circulando acima da velocidade permitida, representa um perigo constante para os alunos da Escola Municipal Frederico Assmann, no Bairro Belvedere. Afora isso, ao entrar pelo portão principal parece que tudo está em ordem: pintura nova, professores sorridentes e calçadas limpas. Mas o que à primeira vista é belo esconde um grande problema: esgoto a céu aberto em um local onde crianças estudam e praticam atividades físicas.
O problema começou há tanto tempo que o diretor Inácio Luis Blank não sabe precisar quando foi. Assim como não sabe dizer quantas vezes fez contato com as secretarias responsáveis para alertar sobre os riscos a que as crianças estavam expostas. Para se ter uma idéia, a situação é a mesma desde os tempos em que a auxiliar de cozinha Luciana Santos Pereira freqüentava a escola. Alguns anos depois ela vê os filhos enfrentarem a mesma situação. “Desde quando eu estudei aqui, há uns 16 anos, existe a promessa de melhorias, mas nada acontece. As crianças praticam esporte em meio à sujeira. A bola cai no esgoto, eles pegam na mão e depois colocam a mão na boca; daí ficam doentes”, afirma. “Minha filha já teve vermes, vômito e diarréia.”
O descaso com o saneamento básico também é a reclamação de Rosecler Lopes da Silva, que fica triste ao ver a filha Jaline conviver com a sujeira todos os dias. “Ela chega em casa suja e fedorenta. A escola que deveria ser exemplo acaba sendo o contrário, e não é por falta de empenho dos professores”, diz. A menina completa a reclamação da mãe: “Quando estou jogando, tenho nojo de pegar a bola.”
Com esses fatores adversos, a professora Terezinha Arlete Moraes desabafa: “Dar aula é um desafio. Os alunos reclamam do cheiro forte, que realmente é insuportável. Chega a ter dejetos no esgoto.” A educadora lembra que os estudantes acabam tendo nojo de praticar as atividades físicas. “Em qualquer colégio o esporte é a aula mais aguardada; aqui é o contrário. Eles colocam a saúde em risco em uma atividade que deveria fazer bem a ela.”
Além dos riscos de contrair doenças por ter que conviver com o esgoto a céu aberto, a comunidade escolar da Frederico Assmann precisa enfrentar a falta de calçadas no caminho que leva à escola. Alunos, pais e professores se obrigam a trafegar pelo asfalto disputando espaços com os carros. Alguns pais comentam que estudantes já foram atropelados e as crianças ficam apreensivas. “Dá muito medo. Em várias situações quase que os meus amigos foram atropelados”, revela Luana Tatiele Lopes.
Até mesmo quem vai de carro fica preocupado. “Quando estou vindo de manhã o sol bate direto nos olhos e o medo de atropelar alguém é muito grande. Não existe sinalização e as crianças andam no meio da rua. Dou carona para algumas colegas e tenho que pedir para elas me ajudarem”, diz Terezinha.
(Por Caroline Scortegagna, Gazeta do Sul, 15/04/2008)