Manifestação no Estado integra jornada em todo o país para reivindicar rapidez na concessão de áreas e relembrar o massacre de Carajás
Depois de cinco anos de ameaças, integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) invadiram ontem, pela primeira vez, a Fazenda Southall, em São Gabriel, na Fronteira Oeste.
A ação integra o Abril Vermelho, uma mobilização nacional que lembra o aniversário do massacre de Eldorado dos Carajás. Atendendo a um pedido do proprietário da área, o juiz Eduardo Pontes determinou que os invasores deixem a fazenda de forma espontânea até as 10h de sexta-feira (18/4).
Um grupo de centenas de pessoas se instalou no fim da manhã na sede da propriedade, às margens da RS-630. De longe, a Brigada Militar observou a movimentação do MST.
O comandante regional da BM da Fronteira Oeste, coronel Lauro Binsfield, prometeu respeito ao prazo legal e assegurou que só entrará na fazenda depois do fim do período. Os cerca de 150 homens da BM de São Gabriel e de Livramento, que estão nas proximidades da fazenda, permanecerão em alerta para evitar que novos invasores entrem na área.
Apesar de toda a movimentação do MST, da polícia e dos ruralistas que estão acampados em uma fazenda vizinha à Southall, o clima na propriedade ontem era calmo.
- Não estamos pressionando para entrar na fazenda, nem o MST está agravando a situação de irregularidade. Por enquanto, está tudo tranqüilo e esperamos que a saída das famílias seja tranqüila. Vamos solicitar que o Conselho Tutelar acompanhe a desocupação da fazenda para que as crianças sejam preservadas - afirma o comandante.
Mesmo com a possibilidade de os integrantes do MST saírem de forma pacífica da Southall, a BM já afirmou que punirá os ocupantes pelos crimes de invasão e dano à propriedade privada.
- Todos os invasores serão identificados e presos. Além de terem tomado a fazenda, eles abateram duas das 48 cabeças de gado da fazenda - acrescenta Binsfield.
Representantes do movimento negam o dano e justificam a invasão ao não-assentamento de famílias, além do Abril Vermelho. Uma das coordenadoras do acampamento do MST, Jane Fontoura cobra rapidez nos assentamentos.
- Nós não queremos encarar mais um inverno passando frio embaixo de lonas - afirma.
Ruralistas vão realizar protesto nos próximos dias
Na sexta-feira, quatro ônibus saídos de Santiago, Tupanciretã e Ronda Alta levaram mais de 250 integrantes do MST a São Gabriel. Ontem, outros cinco ônibus de Nova Santa Rita, com mais cerca de 250 pessoas, chegaram ao acampamento. Prevendo a invasão, a BM orientou o proprietário da Southall a cortar a luz e a água da fazenda para dificultar a permanência dos manifestantes. Jane disse, no início da noite de ontem, que a fazenda tinha energia elétrica, mas estava sem água. O grupo garantia o abastecimento graças a riachos.
Os ruralistas preparam uma grande mobilização para os próximos dias. De acordo com o presidente do sindicato rural de São Gabriel, Tarso Teixeira, mais de mil proprietários de fazendas deverão ir até a cidade para acompanhar a movimentação do MST e cobrar o cumprimento da reintegração de posse:
- Em época de colheita é mais difícil a gente se reunir. Mas vamos tentar fazer uma grande mobilização. Não vamos aceitar a prorrogação do prazo para a reintegração.
(Zero Hora, 15/04/2008)