Hoje (15/04), após mais de 20 anos da falência fraudulenta da Ingá Mercantil, o terreno da empresa irá a leilão. Localizado na área portuária da Baía de Sepetiba, ele tem um valor de mercado estimado em 200 milhões de reais, mas está com o valor sub-avaliado no leilão, estipulado em 120 milhões. Com isso, ficam praticamente impossibilitadas a despoluição da área e a indenização de entre 3,5 e 5 mil pescadores, que foram prejudicados pelas atividades da empresa - essas atividades contaminaram a água da Baía e mataram milhares de peixes, deixando a pesca artesanal impraticável.
Segundo o ambientalista Sérgio Ricardo, do Fórum de Meio Ambiente da Baía de Sepetiba, há no pátio da empresa abandonada mais de 3 milhões de toneladas de lixo químico. O dique de contenção desse material rompeu e vazou para a Baía. Todos os anos, especialmente no período das chuvas, o material contaminado vai para a Baía. Por ano, são 150 toneladas de zinco.
Os problemas dos pescadores e da população que vivem cerca da Baía não terminam aí. Agora, uma dragagem - a escavação ou remoção de solo ou rochas do fundo de rios, lagos, para aprofundar e alargar os canais - realizada pela empresa Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), está levando essa terra contaminada para uma cova, em outro lugar da Baía, espalhando assim o lixo ambiental.
A dragagem está formando ilhas de sedimentos na desembocadura dos rios, obstruindo rios e canais com placas de ferro em pesqueiros utilizados há mais de 200 anos por pescadores artesanais. Hoje, pescadores da área realizaram uma barqueata, em protesto público, contra as atividades da CSA. Eles protestaram também contra a morte de um pescador e quatro operários da empresa, que foram atropelados por um rebocador da empresa.
O volume de lama que está sendo dragada é de 20 milhões de m3. Isso, apesar de a justiça ter condenado, em primeira instância, a Companhia Docas do Rio de Janeiro, que provocou sérios danos ambientais e econômicos na região de Sepetiba por causa da dragagem no fundo da Baía para abrir o Canal do Porto de Itaguaí.
Com isso foi proibido o bota-fora de material tóxico dentro da Baía. Esse material de dragagem deve ser colocado em terra, ou jogado a 6 milhas náuticas. O embargo das obras da CSA foi feito por fiscais do Ibama, em dezembro passado, devido ao extenso desmatamento de manguezal, no entanto não foi cumprido até hoje.
Os manifestantes querem o fim do leilão do terreno da Ingá e uma indenização pelos impactos provocados pela poluição química da baía, já que com os crustáceos ficando impróprios ao consumo, muitos pescadores ficaram sem trabalho e há um crescente empobrecimento.
(Adital, 14/0/2008)