Um choque entre índios guaranis e fazendeiros bolivianos deixou pelo menos 40 indígenas feridos e 11 pessoas desaparecidas, informou a imprensa local na segunda-feira, num novo episódio do longo conflito entre os seguidores do presidente Evo Morales e a oposição conservadora.
Todas as baixas ocorreram no lado indígena, disseram as rádios ao noticiar o incidente ocorrido na noite de domingo no Departamento de Santa Cruz (leste), reduto da direita, onde a oposição promove um referendo de autonomia em aberto desafio ao presidente indígena.
"Não houve nenhum enfrentamento, e sim agressão com ódio, extremamente violenta, de pecuaristas e seus grupos de choque contra indígenas guaranis," disse a uma rádio local o vice-ministro de Terras, Alejandro Almaraz, que foi a Camiri, capital da província da Cordillera, onde ocorreu o confronto.
Testemunhas disseram à rádio Erbol que cerca de 200 guaranis iam a uma reunião da Assembléia do Povo Guarani (APG) e sofreram uma "emboscada" ao tentar passar por uma estrada bloqueada por fazendeiros contrários à chamada "revolução agrária" promovida pelo governo.
"Parece que vai haver uma guerra pelas terras," advertiu em uma outra declaração o líder da APG, Wilson Changaray, assegurando que nem os indígenas nem os funcionários governamentais que os acompanhavam portavam armas de fogo. Almaraz disse que o jornalista argentino Fernando Cola, um funcionário do departamento de reforma agrária e 9 guaranis estão desaparecidos, supostamente detidos ou escondidos na selva.
Já os feridos, quatro deles com gravidade, atingidos por golpes e pedradas, foram atendidos em Camiri, cerca de 700 quilômetros a sudeste de La Paz. Fontes políticas disseram que Cola é um repórter independente que colabora frequentemente com organizações não-governamentais.
Os fazendeiros da província da Cordillera, com sua rejeição ao processo de verificação e propriedade do uso da terra, resistem a uma série de mudanças promovidas por Morales, e na semana passada iniciaram um bloqueio rodoviário para impedir a passagem de uma comissão governamental encarregada de fazer a avaliação do território.
(Reportagem de Carlos Alberto Quiroga, Reuters, Estadão, 14/04/2008)