Os trabalhadores rurais de Jaguaré, norte do Estado, estão buscando apoio de toda a sociedade local para impedir o lançamento de agrotóxicos por avião. Sem ações das autoridades do governo do Estado e das prefeituras, as aplicações de venenos agrícolas por via área continuam no Espírito Santo. A última delas ocorreu na segunda-feira (7), em Jaguaré.

Mais de uma centena de moradores de todo o município já foram contaminados com os agrotóxicos lançados por via aérea, segundo relato do dirigente municipal do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Adalto Luciano Togneri.

Uma das vítimas de intoxicação com o bombardeio dos agrotóxicos em Jaguaré foi Celina Souza Ramos. Ela buscou atendimento médico de emergência em unidade de saúde do município. Outros, mesmo contaminados, não procuraram ajuda médica imediata.

Os agricultores denunciam que os venenos lançados nos cafezais, de norte a sul do município, contaminaram gente e atingiram ainda áreas próximas à Reserva Biológica de Sooretama, talvez a própria reserva, do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

A preocupação dos agricultores é grande. No último sábado decidiram que vão mobilizar toda a comunidade para uma reunião no próximo sábado (19), às 9 horas, na Escola Família Agrícola (EFA) de Jaguaré. O primeiro passo para esta reunião está sendo dado nesta segunda-feira (14): os dirigentes estão visitando sindicatos, igrejas de todas as denominações, as três escolas comunitárias rurais e a EFA, entre outros setores, para informar sobre o problema.

Outra providência, segundo informou Dorizete Cosme, da coordenação estadual do MPA, é formalizar a denúncia dos problemas causados pelo bombardeio aéreo dos agricultores com agrotóxicos a todas as autoridades municipais, além do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf) e da Polícia Militar Ambiental (PMA).

É que eles haviam acionado só a Promotoria do Ministério Público Estadual (MPA) de Jaguaré. Na tarde desta segunda-feira os agricultores fizeram contato com o promotor para saber se ele adotou providências em relação à agressão à comunidade.

O MPA relata que os moradores de Jaguaré não são as únicas vítimas dos lançamentos aéreos de venenos agrícolas no Espírito Santo. Aviões também foram empregados em Vila Valério e Linhares. Os venenos estão sendo aplicados em culturas de café, coco e de cana-de-açúcar.

Os venenos produzem doenças mortais, entre as quais alguns tipos de câncer, redução da imunidade e doenças genéticas. Provocam impotência sexual (que leva ao suicídio) e frigidez.

Dez mil trabalhadores morrem anualmente no Brasil contaminados pelos agrotóxicos. Os venenos agrícolas usados na produção de alimentos intoxicam 500 mil brasileiros por ano e, dos intoxicados, cerca de 10% ficam definitivamente incapacitados para o trabalho, o que totaliza uma perda de 50 mil trabalhadores/ano no país.

A despeito das desgraças que provocam, as transnacionais dos agroquímicos faturaram alto no Brasil: US$ 3,9 bilhões em 2006. Entre as transnacionais dos venenos agrícolas a Bayer Cropscience Ltda, Dow Agrosciences Industrial Ltda, DuPont do Brasil S.A., Monsanto do Brasil S.A., Laboratórios Pfizer Ltda.; Rhodia Brasil Ltda; Syngenta - Proteção de Cultivos Ltda.

(Por Ubervalter Coimbra, Século Diário, 14/04/2008)