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cvrd mineradoras
2008-04-15
Em 1997, ano da privatização da Vale, o pintor Kleber Galvêas decidiu registrar, através de telas desenhadas com o pó de minério lançado pela poluidora sobre a Grande Vitória, esse processo de transição. O artista esperava que a Vale ficasse mais atenta às questões ambientais. Entretanto, a poluição na GV tem aumentado no mesmo ritmo do crescimento da empresa.

"Como era o último ano da Vale como empresa pública, eu tive a idéia de registrar essa transição. Inclusive, acreditava que a privatização talvez pudesse mudar as coisas para melhor. Fiz então a primeira tela em 1997. No ano seguinte, decidi fazer novamente justamente para comparar se havia ocorrido alguma melhora. Tinha a expectativa de que a poluição pudesse ter diminuído. Mas o que percebi foi que o problema havia se agravado significativamente. Então, a partir daí, fui fazendo ano após ano para ver quando a curva cairia, uma vez que sempre havia promessas por parte da empresa e do governo de que alguma ação seria tomada para conter a poluição", critica o pintor.

O protesto, que Galvêas prefere chamar de provocação, entra agora no próximo dia 6 de maio na sua 12ª edição. De 1997 para cá, o artista vem produzindo as telas, distribuindo panfletos para conscientizar a população sobre o problema e enviando sistematicamente artigos sobre o tema à imprensa. Ele se queixa que tem feito todo esse movimento solitariamente. "Estou sozinho. Agora na Festa da Penha distribui 10 mil folhetos para divulgar as ações que faremos este ano no projeto 'A Vale, a Vaca e a Pena'. Gastei R$ 800 do meu bolso para fazer os folhetos e o rapaz que limpa o quintal aqui de casa me ajudou a distribuir", conta.

Além dessas ações que já se tornaram permanentes, nesses doze anos de "provocação", Galvêas tem participado de todas as audiências públicas que ocorreram em Vila Velha e Vitória para discutir o assunto, nas câmaras dos dois municípios e na Assembléia Legislativa. Ele reclama, no entanto, que diversas vezes se sentiu desrespeitado. "Às vezes acho que estamos fazendo papel de palhaço. Na entrada do auditório eles mandam a gente preencher uma ficha com os nossos dados pessoais. Durante a audiência eles praticamente não nos dão voz, ou, quando muito, permitem que falemos por no máximo cinco minutos. Quando a gente começa a entrar no assunto, a campainha toca para avisar que o tempo está esgotado, já a empresa tem direito a uma hora de exposição com todos os recursos tecnológicos e humanos disponíveis".

Segundo o pintor, para justificar essa distribuição desigual do tempo, os responsáveis pela audiência alegam que a empresa é uma só e os representantes da sociedade civil são diversos. "Resultado: você deixa seu nome registrado que esteve presente, a interpretação deles é que você está dando respaldo às decisões que foram tomadas na audiência, quando na verdade você não teve voz para se expressar democraticamente".

Moeda de troca

Galvêas ainda acrescenta que alguns líderes comunitários usam as audiências como moeda de troca. "Dizem: 'Nós apoiamos a Vale desde que ela asfalte a rua X ou resolva o problema do bairro Y', e assim por diante. Eles negociam a saúde da população em troca de benfeitorias miseráveis, insignificantes, frente à gravidade do problema", protesta.

Ele diz também que qualquer tentativa de articulação mais efetiva se torna bastante difícil, porque as pessoas mudam de posição de uma hora para outra sem nenhuma justificativa. Mesma atitude têm os deputados que, segundo o artista, não cumprem com os compromissos assumidos com a sociedade. "Os nossos deputados da Comissão de Meio Ambiente da Assembléia Legislativa, Cláudio Vereza e Janete de Sá, por exemplo, devem estar com o rabo preso em algum lugar. A verdade é que nas audiências públicas eles conduzem todas as discussões na surdina, favorecendo sempre o outro lado. Quando é para se manifestar eles se omitem".

Mesmo com tudo contra, Galvêas é persistente e avisa que nesta segunda-feira (14) participa de mais uma audiência que acontece na 1ª Igreja Batista de Vila Velha para discutir a questão.

Críticas ao governo

Além das queixas que faz aos deputados e a uma parcela da sociedade civil organizada que tem usado as audiências de forma oportunista, Galvêas aponta o governo e a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Seama) como os grandes responsáveis pelo problema da poluição na Grande Vitória. "O governo Paulo Hartung se esnoba ao afirmar que somos os maiores produtores de chapa de aço, de pedra, de petróleo, gás, minério etc. E a qualidade de vida da população, onde fica? Nossa educação, saúde, segurança, habitação estão falidas, ou seja, tudo que o governo deveria fazer para resolver os problemas sociais do Estado não está sendo feito. Acredito que se tivéssemos um governo forte, atento às questões sociais, que impusesse, que defendesse o interesse do povo, nós estaríamos com um padrão de vida parecido com o da Suíça. O imperador não pode só pensar em morar no palácio, ele precisa agir, impor a favor do seu povo".
 
(Por José Rabelo, Século Diário, 14/04/2008)

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