A Polícia Federal vai instalar, a partir de hoje (14), bases permanentes em pontos estratégicos da terra indígena Raposa/Serra do Sol (nordeste de Roraima), palco de protestos contrários à retirada da população não-índia do local.
A operação de retirada, chamada Upatakon 3, foi suspensa na quarta-feira pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Mas, segundo a Advocacia Geral da União, o STF permitiu que a Força Nacional de Segurança e a PF continuem mobilizadas em Roraima até o julgamento do mérito das ações sobre a ocupação da terra indígena.
"Em razão da decisão judicial, a Polícia Federal começa a fazer a segurança interna da Raposa/Serra do Sol para garantir a lei e a ordem", disse o delegado Fernando Segóvia.
Ele coordena a Operação Upatakon 3, que permanecerá com o mesmo nome, mas com nova configuração, focada na segurança pública --e não mais na retirada dos arrozeiros, pequenos produtores rurais e outros não-índios que ainda ocupam parte da terra indígena.
As bases que começarão a ser instaladas na segunda-feira, segundo Segóvia, vão funcionar como delegacias. Sem mencionar o local de instalação das bases, Segóvia estima que inicialmente serão mantidos 300 homens na terra indígena por pelo menos 60 dias, monitorando todos os acessos para evitar novos bloqueios e destruição de pontes e estradas.
Com o início do desembarque de agentes federais para fazer a retirada dos não-índios da Raposa/Serra do Sol, houve uma série de protestos.
Na última segunda-feira, manifestantes --arrozeiros e parte dos índios, que os apóiam-- atacaram com coquetéis molotov o posto da PF em Pacaraima (214 km de Boa Vista).
Ontem, os arrozeiros começaram a desfazer as barricadas e fechar as crateras abertas nas estradas. Apesar disso, Segóvia disse que o clima continua tenso. "Se houver necessidade, vamos enviar negociadores."
"Vamos fazer um trabalho de aproximação com a comunidade, avisar a sociedade sobre a nossa missão, que é para restabelecer a paz", disse. A PF também vai investigar a autoria dos crimes praticados até agora.
O superintendente da PF em Roraima, José Maria Fonseca, disse que nessa nova missão os agentes usarão menos armamento do que o previsto na ação de retirada dos arrozeiros. Ele não informou o tipo de armas --afirmou apenas que seria o "estritamente necessário".
O coordenador do CIR (Conselho Indígena de Roraima), Dionito José de Souza, considerou importante a presença da Polícia Federal na região e disse acreditar que a partir de agora a população indígena terá mais tranqüilidade.
"Mas só viveremos em paz quando os arrozeiros saírem de nossas terras. A suspensão da operação pelo STF ainda dói nos nossos corações."
Bomba
Para dar início aos trabalhos, a PF enviou ontem 44 homens para a vila do Surumu, em Pacaraima. Uma bomba caseira foi encontrada na Igreja Católica da comunidade do Barro, onde vivem os índios ligados ao CIR, favoráveis à retirada dos arrozeiros da terra indígena Raposa/Serra do Sol.
O artefato, de aproximadamente 25 centímetros, estava intacto e foi apreendido. Segundo a PF, o índio que administra a igreja, cujo nome não foi revelado, disse que a bomba havia sido jogada por integrantes da Sodiur (Sociedade de Defesa dos Índios Unidos do Norte de Roraima). Segundo o coordenador-geral da Upatakon 3, delegado Fernando Segóvia, será instaurado um inquérito policial para apurar a responsabilidade.
(Andrezza Trajano, Folha Online, 13/03/2008)