A seca, as altas temperaturas no Sul e as enchentes no Nordeste do Brasil são algumas das conseqüências da ação do homem na natureza. Entre elas está o lançamento de elementos poluentes na atmosfera. O aumento dessa poluição é avaliado por um grupo de pesquisadores através da retirada de material presente no gelo da Antártida. Um dos integrantes da pesquisa é o professor da Universidade Federal do Rio Grande o Sul (UFRGS), Luiz Fernando Reis.
Na semana passada, o professor voltou da viagem ao continente gelado a bordo do navio de apoio oceanográfico brasileiro Ary Rongel. Ele embarcou para a Antártida e, na volta, desembarcou em Rio Grande. Após deixar a embarcação, Reis revelou alguns detalhes sobre esse trabalho. O projeto denominado Clima Antártico Sul-Americano (Casa) é integrado por diversos pesquisadores.
Para retirar o material dos blocos de gelo, é utilizada uma perfuratriz. O detalhe é que quanto maior for a extensão de perfuração mais informações serão obtidas. De acordo com o professor da UFRGS, na queda dos flocos de neve, o gás é aprisionado. Na remoção da parte do gelo é possível analisar o gás e conhecer os níveis de poluentes contidos, detectando o quanto as indústrias contribuem para as alterações no clima e para a emissão de elementos nocivos à atmosfera.
A pesquisa
Os dados levantados pelos pesquisadores na 26ª Operação Antártica (Operantar) foram bastante significativos. Quanto mais profunda a perfuração, mais antigo é o gelo que concentra os gases analisados. A sondagem chegou ao recorde brasileiro de 133 metros de profundidade - o máximo atingido anteriormente foi 47 metros - e encontrou resquícios de cerca de 250 anos atrás.
O trabalho foi realizado a 450 quilômetros da base brasileira na Antártida Comandante Ferraz, localizada na ilha do Rei George, a dois mil metros de altitude e numa temperatura de 22 graus negativos. Em razão dessa situação, roupas especiais, além das normalmente utilizadas na Antártida, tiveram que ser vestidas. “Os percalços que enfrentamos, como tempestades, eram previsíveis”, contou o professor. Uma barraca foi instalada na localidade de Plateau Detroit.
Também houve a montagem de uma estação meteorológica automática para a transmissão via satélite pelo sistema francês Argos. Os dados foram enviados ao Brasil. O material recolhido será enviado para análise à Universidade de Mayne, nos Estados Unidos. O navio Ary Rongel trouxe as amostras retiradas do gelo antártico. Reis explicou que faltaram caixas para acondicionar de forma adequada o gelo extraído do bloco.
Esse tipo de pesquisa tem sido realizada desde 1986. O professor explicou que em 20 anos 7% do gelo da Antártida foi derretido. Para ele, a elevação dos níveis dos oceanos é apenas uma parte das conseqüências do aquecimento global.
Conseqüências
Com o resultado da agressão ao meio ambiente, pode haver situações muito mais catastróficas para a humanidade, como a seca em diversos locais do planeta. “Se o oceano subir, há a alternativa de criar barreiras ou fugir do local, mas no caso da fome pela falta de alimentos em grandes regiões haverá pouco o que fazer”, disse o professor. O resultado das análises servirá de base para estudos sobre os impactos da atividade humana para que se evite que o clima no planeta continue a ser alterado. Se o oceano subir, há a alternativa de criar barreiras ou fugir do local, mas no caso da fome pela falta de alimentos em grandes regiões haverá pouco o que fazer.”
Luiz Fernando Reis, professor da Universidade Federal do Rio Grande o Sul
(Por Luiz Eduardo Baquini, Diário Popular, 13/04/2008)