Pneu velho pode se transformar em criadouro de mosquitos. Mas numa cidade gaúcha, o lixo que poluía o meio ambiente virou solução para muitas famílias que convivem com um problema: a falta de saneamento básico.

Em dois meses de trabalho, 300 pneus abandonados pelos motoristas. Em Pelotas, no sul gaúcho, como em todo o Brasil, um problema grave para o ambiente vai parar nas mãos do borracheiro.

"Se eu for devolver ele pro caminhoneiro ele vai jogar na beira da estrada”, diz o borracheiro Ilson Gularte.

A legislação obriga os fabricantes a recolherem os pneus que não podem mais rodar. Mas na prática, borracheiros como Ilson pagam para que empresas especializadas façam a queima do material. Um processo autorizado por lei, mas que também causa danos ao ambiente.
Mas os pneus vão ter outro destino: uma central de processamento, onde vão virar tubos para o saneamento básico.

Todo processo depende de uma única máquina: essa prensa, onde sete pneus de automóvel se transformam num tubo de um metro em apenas dez minutos. Um tubo de concreto do mesmo tamanho demora 21 dias para ficar pronto.

Para criar o ecoduto, os pneus prensados são presos uns aos outros. O processo usa apenas pneus radiais, que tem uma trama de aço por dentro.

Uma vila é o local de testes do projeto. Lá, o esgoto corre a céu aberto. São 200 quilômetros de riscos à saúde.

"Tem muito mosquito, mosquito incomoda. Eles caem, muitas vezes, dentro da valeta. Para nós é horrível”, diz a dona de casa Débora Porto.

Colocados lado a lado, os tubos são cobertos por uma lona para evitar infiltrações. Depois de interligados, os ecodutos são cobertos por terra e saibro. O coordenador do projeto explica que resistência é semelhante à do concreto e com outra vantagem.

"Tapa a valeta por 25% do valor normal e com os 75% que sobram nós podemos arborizar, podemos fazer quem sabe uma calçada para as pessoas caminharem, sem estar amassando barro no inverno e comento poeira no verão”, explica o arquiteto Fernando Caetano.

O mesmo sistema está sendo testado para substituir fossas e filtros no tratamento do esgoto doméstico. Os mais de 500 anos que os pneus levariam para se decompor na natureza podem se tornar uma resposta duradoura para a falta de saneamento básico, um dos maiores problemas brasileiros.

(Jornal Nacional, TV Globo, 12/04/2008)