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movimento ambientalista gaúcho silvicultura zoneamento silvicultura
2008-04-14
A frustração gerada esta semana pela implantação de regras mais brandas para a exploração florestal no Estado levou o movimento ambientalista gaúcho a repensar sua atuação.

A polêmica sobre o plantio de espécies exóticas também ajudou a revelar o novo perfil da frente ecológica rio-grandense, sem um grande porta-voz e a mesma repercussão popular de décadas anteriores.

Na quarta-feira, a aprovação do zoneamento florestal pelo Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) sem limitações pré-estabelecidas para o plantio de árvores exóticas, como o eucalipto, foi uma dura derrota para as pretensões das entidades de defesa da natureza. Uma das conseqüências imediatas desse revés é a reavaliação da presença das ONGs no conselho, onde ocupam quatro de 29 cadeiras.

- As entidades estão avaliando isso no momento. A saída do Consema não está descartada - garante o representante da ONG Ingá no Consema, o biólogo e professor da UFRGS Paulo Brack.

A principal queixa dos ambientalistas é a dificuldade em fazer avançar suas propostas em um órgão em que predominam os votos de órgãos e secretarias do governo estadual - o que comprometeria uma atuação mais autônoma, segundo eles. As saídas para a crise da militância verde no Estado - uma referência no país - , segundo Brack, também passam pela aproximação a movimentos sociais de outras áreas:

- É fundamental criar laços com outros movimentos, superando a dependência do Estado e de partidos.

O futuro do movimento também deve abdicar de figuras dominantes como a do célebre ativista José Lutzenberger, que durante décadas foi sinônimo da luta ecológica no Estado. Para os líderes atuais, é preferível contar com múltiplas referências em vez de uma.

- O Lutzenberger era uma grande liderança para o público externo, mas o movimento já andava com as suas próprias pernas. Cada entidade passou a ter a sua liderança - observa Kathia Vasconcellos, integrante do Núcleo Amigos da Terra.

A atuação dos militantes caminha para tarefas cada vez mais burocráticas em comparação aos gestos heróicos do passado, como quando o estudante de Engenharia Elétrica da UFRGS Carlos Alberto Dayrell subiu em uma árvore da Capital, para impedir sua derrubada, em 1975. Hoje, Dayrell provavelmente sentaria diante do computador e dispararia e-mails para listas de discussão denunciando a ameaça de corte.

- Nosso trabalho hoje é meio que administrativo, entre aspas. Redigimos textos, enviamos mensagens por e-mail, não é mais aquele trabalho romântico. Passamos mais tempo na frente do computador, do que na floresta - diz Kathia.

A ONG pretende usar o recurso das listas de e-mail, por exemplo, para contar a colegas do Exterior a flexibilização das regras para a exploração da celulose no Estado. A burocratização, que também se revela pelo hábito de recorrer ao Ministério Público para encaminhar queixas de danos ao ambiente, ainda não foi acompanhada pela profissionalização da atividade. Poucas entidades, como a Amigos da Terra, conseguem remunerar os militantes - ainda assim quando obtêm financiamento para executar determinados projetos - e dependem de voluntariado.

- Por isso, costumamos contar com aposentados ou com pessoas do serviço público - revela Brack.
(Zero Hora, 12/04/2008)


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