Decisão do Ministério do Desenvolvimento Agrário causou alívio entre produtores rurais e mal-estar entre integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

Uma decisão do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) caiu como um balde de água fria sobre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

A notícia de que a Fazenda Coqueiros, no município de Coqueiros do Sul, norte do Estado, não será mais desapropriada pelo governo federal causou alívio entre os ruralistas e mal-estar entre os integrantes do MST.

Afazenda gaúcha que nos últimos anos foi alvo de 11 invasões de sem-terra sai da mira de possíveis desapropriações. A propriedade de 7 mil hectares não pode ser desapropriada por improdutividade, pois os estudos a confirmaram como produtiva, segundo confirmou o MDA à reportagem. O governo chegou a cogitar de uma desapropriação por interesse social, mas também essa forma se mostrou inviável.

De acordo com a assessoria do MDA em Brasília, por diversas vezes a União tentou comprar as terras que pertencem ao produtor Félix Guerra, mas teve todas suas ofertas negadas, o que acabou impossibilitando o assentamento de famílias no local.

- Não tenho dúvidas que a decisão mostra que ela é produtiva. Este reconhecimento parte do próprio Ministério do Desenvolvimento Agrário. Espero, agora, que o Incra suspenda o apoio aos grupos que ficam na lateral da propriedade prontos para qualquer ação - diz Carlos Sperotto, presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), referindo-se aos dois acampamentos ao lado da fazenda.

O advogado de Félix Guerra, Tailor José Agostini, informou que o produtor rural foi informado pelo próprio ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, que a Fazenda Coqueiros não seria desapropriada pelo governo. A expectativa é de que a área deixe de ser alvo do MST e, para isso, os acampamentos que estão localizados em sua vizinhança sejam desativados imediatamente.

Os integrantes do MST que estão acampados em áreas próximas à Fazenda Coqueiros se mostram indiferentes à decisão. Para eles, a sentença do governo não muda a intenção de ocupar a área. Um integrante do movimento, que está acampado no local desde 2006, avisa que a luta continuará.

Elaine Rissi, da coordenação estadual do MST, cobra o cumprimento do acordo feito com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), que, em novembro passado, assinou um termo de ajustamento de conduta com os sem-terra para pôr fim a uma marcha de cerca de 2 mil integrantes que saíram de três pontos do Estado com destino à Coqueiros.

A área polêmica
- A Fazenda Coqueiros é a propriedade rural mais visada pelo MST no Estado. Desde 2004, a área é alvo de invasões - foram 11 desde então - e cerco, com a montagem de dois grandes acampamentos em propriedades vizinhas. A região representa muito para o MST. Foi a poucos quilômetros dali, na localidade de Encruzilhada Natalino - em Ronda Alta - , que nasceu o movimento. Em 1979, um grupo de colonos expulsos da reserva indígena de Nonoai acampou nas estradas da proximidade e fundou o principal movimento social do país.

(Zero Hora, 12/04/2008)