O forte aumento da produção de biocombustíveis nos Estados Unidos e na Europa é um fator importante da disparada dos preços dos alimentos no mundo, pressão que é responsável por tumultos no Haiti e na África, considerou nesta sexta-feira o presidente do Bird (Banco Mundial), Robert Zoellick.
"Os biocombustíveis são sem dúvida um fator importante" no aumento da demanda em produtos alimentares, afirmou Zoellick em entrevista à rádio pública americana NPR.
"Está claro que os programas públicos na Europa e nos Estados Unidos acarretaram um aumento da produção de biocombustíveis, o que provocou a intensificação da demanda em produtos alimentares", explicou.
O preço do milho, utilizado na produção de álcool, dobrou nos dois últimos anos devido à forte demanda. "É preciso reconhecer que o aumento da demanda em biocombustíveis tem um impacto em todos os preços dos produtos alimentares, e isso representa um grave perigo em algumas partes do mundo, como no Haiti ou na África", frisou Zoellick. "Espero que isso vá estimular os Estados Unidos, os europeus, os japoneses e os outros a trazerem seu apoio para responder a esta situação de emergência", comentou.
A disparada dos preços alimentícios e da energia motivou nesta semana violentos protestos no Haiti e no Egito, assim como uma greve geral em Burkina Faso. Na nação caribenha morreram pelo menos cinco pessoas por causa das revoltas.
Ontem, em Haia, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, defendeu os biocombustíveis. Lula afirmou que os recentes aumentos nos preços dos alimentos indicam que é necessário produzir mais em nível mundial, mas que não se pode culpar o investimento nos biocombustíveis pela pressão.
Também ontem, Zoellick pediu uma ação internacional "imediata" para enfrentar a situação de emergência em países em desenvolvimento por causa do aumento do preço dos alimentos.
"Em primeiro lugar para a crise imediata, a comunidade internacional deve cobrir pelo menos o vácuo de US$ 500 milhões no programa alimentar das Nações Unidas para satisfazer as necessidades de emergência", disse Zoellick. Segundo ele, o efeito da atual crise alimentícia na redução da pobreza em nível mundial equivale a sete anos perdidos.
Se manifestaram ainda sobre o assunto o primeiro-ministro britânico, Gordon Brow, a ONU (Organização das Nações Unidas), o FMI (Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e o representante da FAO (Organização da ONU para a Agricultura e Alimentação) para América Latina e Caribe, José Graziano.
O aumento dos preços está na pauta das próximas reuniões do Bird e do FMI (Fundo Monetário Internacional) neste fim de semana, em Washington.
(da France Presse, em Washington com
Folha Online, 11/04/2008)