Novos empreendimentos ameaçam aumentar contaminação do Lago Guaíba
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2008-04-11
Tentativas de evitar a poluição do maior manancial hídrico de Porto Alegre, o Lago Guaíba, estão sendo analisadas por uma comissão formada por vereadores da Câmara Municipal, ambientalistas e integrantes do Fórum de Entidades - que discute o projeto de reavaliação do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental (PDDUA) da Capital. A Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Câmara (Cosmam) alertou essa semana para o aumento da contaminação das águas com a ocupação de novos empreendimentos na orla do Guaíba, entre eles, o Barrashopping da Zona Sul, o Museu Iberê Camargo, o Pontal do Estaleiro, o projeto Gigante Para Sempre, a revitalização do Cais do Porto e a ampliação do Shopping Praia de Belas.
A presidente da Cosmam, vereadora Neuza Canabarro, avalia que haverá um acréscimo de 40 a 50 mil pessoas circulando diariamente nesses espaços, o que irá gerar um enorme impacto ambiental para o saneamento da região. A fim de evitar os danos causados pelo aumento brusco da população no entorno, a Comissão sugere que as empresas instaladas sejam responsáveis pelo tratamento do esgoto que produzem e despejam no Lago. Neste sentido, uma das ações da Comissão será o encaminhamento da proposta de modificação da Lei Orgânica do Município (LOM). A reunião que tratou do tema ocorreu na quarta-feira (09/4) na Câmara, e foi tomada após uma visita de fiscalização realizada Sábado (05/04), durante um passeio de barco ao longo do Guaíba, para observação dos pontos de poluição e dos locais de captação de água pelo Dmae.
“A idéia era apresentar o Lago e não ficar de costas para ele. Dessa forma, podemos conhecer o problema e ter mais claridade nas soluções, principalmente no momento em que se discute o Plano Diretor da cidade”, informou o geólogo e técnico da Secretaria Estadual da Saúde, Israel Barcelos de Abreu, que guiou o passeio.
Israel também apontou para a necessidade de captação de água em outros pontos menos poluídos da Bacia, mas sem deixar de tratar os efluentes dos novos empreendimentos. “A água que consumimos é retirada dos locais mais contaminados, por isso, uma solução emergencial poderia ser o prolongamento da rede de água do rio Jacuí, que é mais limpa e tem maior volume”.
Outro agravante, segundo Israel, é o escoamento dos efluentes hospitalares dos 37 serviços de saúde existentes na cidade, entre eles, quatro dos principais hospitais de Porto Alegre. “Antibióticos e outros produtos são despejados sem tratamento, matando parte da microfauna e destruindo o equilíbrio ambiental”.
O vereador Adeli Sell, que também esteve presente na visita, atentou para as ligações irregulares das casas. “As pessoas constroem muitas vezes sem fazer a ligação correta do esgoto doméstico, misturando-o ao pluvial. Essa prática pode trazer enormes danos para o ambiente e, até mesmo, contaminar o lençol freático”.
Da mesma forma, para o ex-diretor-geral do Dmae e ex-presidente da Corsan, Carlos Alberto Petersen, esses pontos de captação tornam o tratamento da água muito oneroso. Petersen explica que para cada m3 de água tratada são gastos, em média, um dólar; mas lembra que a cidade de Porto Alegre consome uma média de cinco mil litros de água por segundo. “Precisa ser feito um investimento maciço no tratamento se quisermos voltar a ter um padrão de balneabilidade”, avalia e aponta para a urgência de estender novas redes. “Têm sido dito que o Dmae trata 27% do seu esgoto, mas não é verdade; o órgão tem capacidade para tratar esse percentual, mas que só seria alcançado se fosse coletado o esgoto na sua totalidade, o que não acontece; até agora 40% do esgoto cloacal é captado pelo Departamento, mas apenas 10 a 12% dele é tratado”, argumenta.
Para Adeli, todos os órgãos públicos devem trabalhar de forma integrada entre si, com as empresas e a comunidade. “Devemos exigir o máximo dos empreendedores, mas também trabalhar de forma integrada, com a Corsan, Metroplan, Sema e órgãos do governo estadual, além de promover campanhas educativas de preservação ambiental e o estímulo da conscientização para a reciclagem do óleo de fritura, entre outros práticas”, exemplifica o vereador.
(Por Adriana Agüero, AmbienteJÁ, 11/04/2008)