Já estão aterrados 8 mil dos 23 mil metros quadrados tomados pela Flexibras da baía de Vitória. A informação está no site do Porto de Vitória. A área ambientalmente destruída será utilizada como retroárea pela empresa, que pertence ao grupo francês Technip e opera no complexo portuário de Vitória desde 1986.
A Flexibras está localizada nas instalações do Porto Organizado de Vitória, destaca a publicação, datada desta quinta-feira (10). A instalação da empresa ocorreu no governo de Gerson Camata. Com a construção, os capixabas do Centro e proximidades perderam um espaço para criação de área de lazer na região. O governo não só permitiu, como fez gestões para a instalação da Flexibras na área do Porto de Vitória.
A licença para ampliação da empresa, mesmo com destruição de mais de dois campos de futebol da baía de Vitória, foi dada no ano passado pelo governo Paulo Hartung. Ele atendeu a demanda da empresa, que produz bobinas e tubos para a Petrobras, para ampliar a área que necessitava para estocar seus produtos próximos do mar.
O absurdo se tornou visível este ano. Mas o Porto de Vitória comemora. O texto que divulga é ufanista: "As obras do aterro para construção da retroárea da Flexibras Tubos Flexíveis continuam a todo vapor. Atualmente, 70% dos trabalhos foram concluídos. O enrocamento foi fechado e, 8 mil dos 23 mil m2 totais, foram aterrados com areia. A próxima etapa será construir e conectar a nova galeria pluvial com a já existente".
Ainda segundo detalha a publicação, a "galeria de concreto, com 8 metros de largura, será estaqueada (mais de 100 estacas), permitindo suportar o peso das bobinas e do jumbo depositado sobre ela. O maior desafio dessa etapa será construí-la abaixo do nível do mar. Para ser possível, é necessário o rebaixamento do lençol e bom planejamento construtivo".
E que "mesmo antes da total conclusão, a nova retroárea estoca 16 bobinas. Os responsáveis pelo projeto do aterro apenas aguardam o recalque residual da área aterrada para ocupá-la. O fim das obras está previsto para outubro de 2008".
E diz ainda que "em 2007, a empresa ampliou de 250 quilômetros para 400 quilômetros a fabricação de tubos flexíveis e cabos umbilicais. Dessa produção, 99% é totalmente destinada à Petrobras. A ampliação proporcionou aumento de 40% no faturamento da empresa".
A baía de Vitória está morrendo
A Baía de Vitória agoniza lenta e gradualmente. Porém, sua morte é inexorável. Há 40 anos, com as águas menos poluídas, botos (golfinhos) nadavam até o interior da baía, atingindo as proximidades da foz do rio Santa Maria da Vitória, no manguezal do Lameirão.
Havia fartura de sardinhas, tainhas e quiras, entre muitos outros peixes. Siris eram pegos com facilidade. Em frente à atual sede da Polícia Federal havia camarão e caranguejo. As águas ainda eram transparentes.
Hoje, os peixes estão cada vez mais escassos. Os botos há muitos anos se afastaram da região. Ninguém se atreve a mergulhar para pescar na baía de Vitória, onde se via até meros de grande porte.
Não há apenas a poluição visual, de lixo boiando. Na região do Saco do Aribiri e em outros pontos foram constatados metais pesados no lodo. Os agrotóxicos usados na região de montanha contaminam as águas da baía.
Estes são apenas uns poucos problemas da baía de Vitória. Outros, ainda mais graves e irreversíveis, estão ocorrendo. Um deles, o aterro promovido pela Flexibras.
A baía de Vitória perdeu outras áreas, há poucos anos, já no governo Paulo Hartung. A Prysmian Cabos e Sistemas, do outro lado da baía, foi autorizada pelo governo do Estado a aterrar no município de Vila Velha. Nesta área também foram perdidos mais de dois campos de futebol: exatamente 21 mil m².
E tudo pode acontecer, pois há, ainda, a construção de cinco gigantescos tanques para armazenamento de soda cáustica, nos morros do Atalaia e Pela Macaco, em Vila Velha, da Nascom Logística Ltda. As obras estão em fase final e causam problemas ambientais e prejudicam a paisagem.
Mas os riscos potenciais são enormes: em caso de vazamento, a área de contenção é insuficiente para armazenar a soda. Neste caso, adeus à baía, incluindo a Estação do Lameirão.
(Por Ubervalter Coimbra, Século Diário, 11/04/2008)