Apesar do zoneamento ambiental da silvicultura ter sido aprovado apenas quarta-feira passada (09/4), ainda é possível que neste ano ocorra o licenciamento de até 70 mil hectares para o cultivo de florestas (expectativa inicial das empresas de florestamento). As companhias interessadas em realizar investimentos neste setor no Estado já haviam iniciado os estudos de impactos ambientais da plantação e isso deve agilizar a concessão de licenças.
No ano passado, foram concedidas licenças para projetos florestais que contemplavam em torno de 45 mil hectares. Para alimentar as unidades de celulose que Aracruz, Votorantim Celulose e Papel (VCP) e Stora Enso pretendem instalar no Rio Grande do Sul, essas companhias pretendem efetivar florestas em cerca de 380 mil hectares nos próximos sete anos. O investimento dessas empresas no Estado deve chegar a cerca de US$ 4,5 bilhões.
Entre os municípios que devem ter florestas plantadas pelas companhias estão: Aceguá, Amaral Ferrador, Arroio do Padre, Arroio Grande, Bagé, Candiota, Canguçu, Capão do Leão, Cerrito, Cristal, Dom Pedrito, Encruzilhada do Sul, Herval, Hulha Negra, Jaguarão, Lavras do Sul, Morro Redondo, Pedras Altas, Pedro Osório, Pelotas, Pinheiro Machado, Piratini, Rio Grande, Santa Vitória do Palmar, Santana da Boa Vista, São Lourenço do Sul e Turuçu.
O presidente do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) e secretário do Meio Ambiente, Otaviano Moraes, avalia que a Metade Sul tem condições adequadas para o plantio das florestas e isso representará benefícios econômicos para essa região. Moraes acredita que a ação não implicará grandes impactos no meio ambiente gaúcho. Ele lembra que o Rio Grande do Sul possui 20 milhões de hectares agricultáveis. Enquanto a soja ocupa atualmente 4 milhões de hectares, as florestas utilizam cerca de 500 mil hectares. Com os novos projetos de florestamento, esse número deve passar para cerca de 900 mil hectares.
O presidente do Consema diz que o zoneamento da silvicultura fornece diretrizes que significam segurança para os investidores e para o meio ambiente. Com o zoneamento, segundo Moraes, a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) terá melhores condições de avaliar caso a caso as áreas que serão licenciadas para o plantio de florestas exóticas como as de eucaliptos. Moraes relata que o zoneamento prevê um equilíbrio e que a cada hectare a ser utilizado para o plantio, outro será protegido. "Haverá limites de ocupação", enfatiza o secretário.
A assessora técnica da ONG ambientalista Núcleo Amigos da Terra, Maria da Conceição Carrion, afirma que foi um "atropelamento" a votação do zoneamento na quarta-feira. Maria da Conceição acusa que há um desequilíbrio no Consema, no qual os ambientalistas são minoria.
Moraes rebate que o zoneamento é um trabalho técnico que está sendo conduzido há mais de um ano e discutido em várias audiências públicas. O secretário destaca que as câmaras técnicas que discutiram o zoneamento eram constituídas de representantes da sociedade, das indústrias, do governo e dos ambientalistas. "O zoneamento da silvicultura no Estado é um avanço, o primeiro e único realizado no Brasil", comemora Moraes.
A assessora técnica da Núcleo Amigos da Terra aponta que o zoneamento é deficiente quanto ao espaço que devia estabelecer entre as áreas que poderão ser utilizadas pelas empresas de florestamento. "No mínimo, a plantação dos eucaliptos terá impacto na paisagem do pampa, na flora e na fauna", teme Maria da Conceição.
Desde o início dos debates quanto ao zoneamento e a instalação das empresas de celulose no Estado as questões econômicas e ambientais foram ressaltadas. Entre os argumentos que apóiam a implantação das companhias está o desenvolvimento de toda uma atividade econômica no entorno de seus projetos. O diretor operacional da Navegação Aliança, Ático Scherer, comenta que a atividade florestal incentivará o uso da hidrovia gaúcha. A hidrovia será mais utilizada para levar madeira e celulose até o porto do Rio Grande.
(JC-RS, 11/04/2008)