Leia:
1) Carta da Raposa Serra do Sol, do Conselho Indígena de Roraima (CIR)
2) Comunicado do Conselho Indigenista Missionário (Cimi)
1) CARTA DA RAPOSA SERRA DO SOL
Nós, comunidades indígenas da Raposa Serra do Sol-RR, diante da suspensão da Operação Upatakon 3, por determinação do Supremo
Tribunal Federal, a pedido do governo do Estado de Roraima, manifestamos:
Há mais de trinta anos sofremos com num doloroso processo de reconquista das nossas terras, que acreditávamos seria concretizado pelo Estado Brasileiro, em cumprimento à Constituição Federal, aos direitos humanos dos povos indígenas e ao decreto de homologação do Presidente da República.
Chega de sofrimento, já esperamos demais! Tivemos calma, muita paciência e confiança nas autoridades, mas agora basta! Independente das autoridades, podemos decidir sobre o nosso futuro e tomar providências, com a união do nosso povo, na desintrusão dos invasores de nossa terra.
Onde estão as autoridades? Os homens da Lei? Pontes foram queimadas, pessoas agredidas, bombas fabricadas aos olhos das autoridades, tratores 'cortaram' estradas aos olhos dos canais de televisão, até carro-bomba foi usado contra a Polícia e quase nada foi feito até agora.
Muitas vezes fizemos o papel das autoridades pedindo paciência aos nossos irmãos. Nós acreditamos no governo, mas a lentidão das autoridades federais, permitiu que os inimigos dos nossos direitos se manifestassem violentamente e conseguissem inverter a situação, sacrificando nós, povos indígenas.
Não aceitamos que as autoridades tenham esperado três anos e tenham permitido todo o terrorismo dos últimos onze dias na Raposa Serra do Sol até que o Supremo pudesse mandar suspender a Operação. Repudiamos a atitude do governo estadual que prefere sacas de arroz em detrimento da vida de 18.992 índios.
Os últimos acontecimentos promovidos pelos arrozeiros, impunes diante de tantos crimes, abrem caminho para mais injustiça e descaso. Não toleramos mais enriquecimento as nossas custas, estamos defendendo nossa a terra.
Definitivamente chega! A Luta continua até o último índio!.
Raposa Serra do Sol, 09 de abril de 2008.
Nós comunidades indígenas da TI Raposa Serra do Sol abaixo assinamos:
Região Serras - Maturuca, Camararém, Flexalzinho, Lilás,Pavão, Bananeira, Santa Rita, Bom Futuro, Morro, Maracanã II, Central, Mangueira, Cutia, Angical, Aramu, Warabadá, Mutum, santa Tereza, Sawi, Pedra Branca, Enseada, Barrerinha, Santa Liberdade, são Mateus, Tabatinga, Nova Aliança I, Igarapé do Gal, Triunfo, Willimon, Uiramutã, Monte Muriá I, Lage, Prododo, Urinduk, Cana, Canawapai, Kaxiriman, Pé da serra, Popo, Kumapai, São Franscisco, São Gabriel, Salvador, Sitio São Mateus, Caracanã, Nova Vida, Andorinha, Ximaral, Warapa, Barro, Waronkayen, Monte Siao, Caraparu I, Tamaduá, Waromadá, Manaparu, São Luis, Mudubim, Estevo, Pedra Preta, Ylainã, Maloquinha, Chui, Caju I, Cumaipá, Bananal da Serra, Campo Formoso, Pioho, Lago Verde, Sapan, Ponto Geral, Área Única, Paraná,Pipi, REGIAO SURUMU - Cantagalo, Machado,Maravilha, são Bento, Limão, Pedra do Sol, Barro, Táxi I, Renascer, Maloquinha, Miang, Pedreira, Cumanã, são Miguel Novo Paraíso, Nova Vitória;
REGIAO DO BAIXO COTINGO - Camará, Escondido, Cararual, São Pedro, Monte Sinai, Pavão, Itacutú, MariMari, Santa Maria, Vizela, Constantino, Kurapá, Gavião, Congesso, Perdiz, Banco, Turual, São Francisco, Copaíba, Repouso, Jawarizinho, Sete Flores,
Brilho do Sol, Homologação, Airasol, São Raimundo;
REGIAO DA RAPOSA - Raposa II, Xumina, Tarame, Parnasio, Boas Novas, Coquerinho, Urubu, Nove de Junho, Ikiri Saimoyó, Das
Vitórias, Nova Geração, Bismark, Guariba, Tucumuã, Jauari, Novo Paraíso, Embauba,Raural, Prainha, Macuxi, Jacarezinho, rego Fundo, Julia, Teso Vermelho, Uirapuru, Matiri, Japó, Cachoeirinha, Nova Canaã, Sucubeira, santa Cruz, Serra Grande, Jibóia, Macaco, Lameiro, Linha Seca.
Conselho Indígena de Roraima
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2) Comunicado do Conselho Indigenista Missionário (Cimi)
A OPÇÃO PELA VIOLÊNCIA CRÔNICA CONTRA OS POVOS INDÍGENAS DE RORAIMA
A decisão liminar do Supremo Tribunal Federal - STF, de suspender a Operação Upatakon 3, da Polícia Federal para a retirada dos arrozeiros da Terra Raposa Serra do Sol, tomada na data de 09/03/2008, é uma opção pela continuidade indefinida da violência contra os povos indígenas em Roraima. Remete-nos à conclusão de que o Estado considera legítimo o uso de carros bomba, coquetéis molotov e a destruição de bens públicos por grupos para a defesa de seus interesses. Essa é a leitura que pode ser feita da decisão do STF, tomada com base na justificativa de se evitar a violência. A decisão favorece o interesse de 06 arrozeiros contra o direito de 18 mil índios.
Remete-nos também a questionar se um grupo indígena ou de sem terra, expulsos de suas terras usasse as mesmas armas e estratégias, conseguiria o amparo da Justiça para se manter numa área retomada do latifúndio.
Com a lei do mais forte, voltando a imperar em Roraima, as comunidades indígenas ficam completamente desamparadas diante da violência provocada pelos invasores. Que ninguém espere que elas aceitem passiva e indefinidamente serem destratadas, ameaçadas, discriminadas, afrontadas, terem suas casas queimadas e seus filhos feridos e assassinados em suas próprias terras.
O Conselho Indigenista Missionário - CIMI, Regional Norte I(AM/RR), solidariza-se com os povos indígenas da terra Raposa Serra do Sol e manifesta preocupação diante de atos ainda mais violentos por partes dos arrozeiros, que muito antes da ação da Polícia Federal vinham aterrorizando as comunidades até mesmo com pistoleiros.
Manaus (AM), 10 de abril de 2008
Conselho Indigenista Missionário (Cimi)- Regional Norte I
A Coordenação
(CIR *, Adital, 10/04/2008)
* Conselho Indígena de Roraima