A história dos povos que viveram no Ceará há seis mil anos está em risco. Mais de 50 sítios arqueológicos podem dar lugar a cata-ventos, que comporão três usinas eólicas na região do Aracati (Ceará). Semana passada, membros do Centro de Pesquisas Arqueológicas do Ceará (Cepace) denunciaram essa situação ao Ministério Público e no próximo dia 17 haverá uma Audiência Pública na cidade litorânea para apresentar os impactos da construção dessas usinas.
De acordo com Verônica Viana, que integra a equipe do Cepace, o Ministério Público está investigando o caso, mas ainda não foi tomada nenhuma decisão. Ela defende que a necessidade moderna de energia não só destruirá sítios arqueológicos milenares, como causará um enorme impacto ao meio-ambiente.
Conforme a denúncia, os 53 sítios arqueológicos e 19 áreas vestigiais encontrados podem estar em números ainda maiores, pois à época da pesquisa os ventos eram brandos, impossibilitando uma maior remobilização da areia.
"Hoje nos preocupa o fato de que todo o litoral cearense, repleto de sítios arqueológicos em seus 573 quilômetros , esteja mapeado em vários pontos da sua extensão por empresas de energia eólica que sob a égide da "energia limpa" provocarão a destruição de sítios arqueológicos milenares", disse o Centro.
Os pesquisadores temem que devido ao desinteresse das universidades públicas na pesquisa de conhecimento da área - só realiza a arqueologia de salvamento - muitas informações sejam perdidas antes de serem sistematizadas.
O parecer contrário à construção foi dado por Verônica, contratada inicialmente pela própria Bons Ventos. Mas ante a negativa dela, e de pesquisadores como o professor Eduardo Góes Neves, da Universidade de São Paulo (USP), de recomendar a obra junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) foi procurado o Prof. Dr. Walter Fagundes Morales que aprovou a construção e se comprometeu a resgatar os vestígios em um ano - quando o estimado pela maioria dos pesquisadores é 10 anos.
O Cepace entende ser imperativa e emergencial um amplo debate acerca do impacto ambiental gerado pela construção das eólicas em áreas de preservação permanente (dunas e restingas - Resolução Conama 303/2002) vedadas ao uso econômico e caracterizadas pela intocabilidade (Resolução Conama 369/2006).
Em nota enviada à Adital, a empresa Bons Ventos, responsável pela construção das usinas, disse que apenas entre 3 e 5% do terreno será usado para a construção das usinas e que as atividades que já existem no local poderão permanecer. No entanto, a arqueóloga Verônica Viera, disse que essa "É uma área muito rica, por isso recomendamos que fique livre de qualquer empreendimento".
Ainda de acordo com a empresa, a equipe coordenada pelo Prof. Morales iniciou a prospecção buscando identificar novos sítios dentro da área do empreendimento e o resgate daqueles que podem vir a ser afetados pelas obras de engenharia.
(Adital-
Agência Info, 10/04/2008)