Entrevista: José Ivo Sartori (PMDB), prefeito
Ao se despedir da reportagem do Pioneiro, ontem (09/4) à tarde, em seu gabinete, o prefeito José Ivo Sartori (PMDB) fez uma revelação impactante: ele admitiu que Caxias do Sul pode adotar o sistema de rodízio de veículos pelo final da placa, como há em São Paulo, para reduzir os gargalos no trânsito. Sartori lembrou que Porto Alegre está estudando essa possibilidade.
- Não podemos descartar estudos para implantar rodízios pelo número final das placas dos veículos, em alguns horários, para retirar alguns carros de circulação. Hoje, muitas famílias caxienses têm uma média de dois a três automóveis - disse o prefeito.
O rodízio não seria uma atitude isolada. Ele estaria aliado a outras medidas que estão sendo tomadas pelo prefeito para dar mais velocidade e fluxo à circulação de ônibus urbanos. Em uma entrevista com duas horas de duração, Sartori, acompanhado dos secretários dos Transportes e Mobilidade Urbana, Jorge Dutra, e da Cultura, Antonio Feldmann (PMDB), detalhou obras que serão executadas neste ano. Ele ponderou que elas vão trazer muitos transtornos e pediu compreensão da população. Veja o que ele disse.
Pioneiro: O diretor da Visate, Fernando Ribeiro, atribui os problemas de superlotação e atrasos de coletivos à necessidade de intervenção, por parte da prefeitura, na estrutura viária. O senhor concorda com ele?
José Ivo Sartori: Não vou discutir com o concessionário, pela imprensa, a visão dele. A nós, cabe, enquanto poder concedente, fiscalizar e controlar as ações. Tenho certeza que, guardadas as proporções e as questões pontuais, o serviço de transporte coletivo de Caxias é bom. Claro que vai ter atraso, superlotação e dificuldades em algum momento. Transtornos existem sempre. Inclusive é bom pedir a colaboração da comunidade, porque os transtornos vão ser muito maiores daqui para frente.
Pioneiro: Por que haverá mais transtornos?
Sartori: Vamos executar diversas obras que vão mexer com a estrutura viária. Vamos inaugurar a duplicação da segunda parte da Perimetral Norte e depois vai ter uma pequena intervenção na ligação da perimetral com a BR-116, e o trânsito vai ficar interrompido por dois dias nesse trecho. Mas os transtornos maiores vão ocorrer por causa dos investimentos em saneamento. Vamos mexer em 120 quilômetros de ruas na cidade, muitas dessas obras em vias onde passam os ônibus. Para quem transporta, como nós, 170 mil passageiros por dia, não podemos discutir a empresa e o nosso relacionamento com a concessionária pelo jornal. Para isso, temos grupos de trabalho, somos gente civilizada, que sabe colocar as questões depois de bem analisadas. Por outro lado, tem o nosso relacionamento com a sociedade, que é feito de forma aberta e transparente no Fórum dos Usuários.
Pioneiro: Como o senhor avalia as reclamações da população sobre o serviço?
Sartori: Vivemos uma dicotomia. Quando construímos a estação de passageiros da Rua Sinimbu, foi um Deus nos acuda. Parecia que iria cair o céu, porque era final de ano e depois viria a Festa da Uva. Diziam: "Vai estragar o nosso comércio, está liquidando isso e aquilo". Hoje estamos construindo 51 módulos (abrigos) e 42 estações já estão prontas. Isso significa mudança de itinerário dos ônibus, a mais do que já fizemos, para melhorar a operação, dando mais agilidade ao transporte, com a retirada de mais ônibus, especialmente das ruas Sinimbu e Pinheiro Machado, para facilitar o trânsito veicular. Estamos avançando nesse sistema com mais agilidade do que pensávamos no início, mas isso gera problemas. Hoje, temos cinco mil horários de ônibus estabelecidos entre concessionária e poder concedente e 578 itinerários diferentes. Isso não é pouca coisa. Além disso, ganhamos a mobilidade urbana do pessoal, que hoje tem uma só tarifa para a cidade inteira com as linhas integração. Começamos a tarifa integrada em setembro de 2006. Tudo isso está dentro de um custo, de agilidade, para oferecer uma melhor qualidade para os usuários. O bairro Parada Cristal, por exemplo, tem linha de integração funcionando.
Pioneiro: Quais outras intervenções estão previstas para o transporte coletivo?
Sartori: Vamos construir duas estações de transbordo de passageiros, uma junto ao Imigrante e outra onde está sendo construído o viaduto da rótula Nelson Bazei. Isso vai permitir a ligação direta da região Leste com a Oeste. Os recursos, em torno de R$ 5 milhões, estão garantidos, financiados e os projetos estão prontos. Só na nossa administração já fizemos 86 trechos de ruas por onde passam os ônibus, com pavimentação ou capeamento asfáltico. Posso dizer que em torno de 20 quilômetros foram feitos nesses últimos três anos. Além disso, vamos fazer binários (duas vias, cada uma operando em sentido inverso, como a Pinheiro e a Sinimbu). Um deles será entre a Moreira César e a Rua Pio XII. Hoje, na Moreira César, nós temos um estrangulamento da perimetral até a Rótula da Gethal e tem 11 linhas que estão operando nessa via.
Pioneiro: A prestação do serviço feito pela empresa São Marcos, com linha para o bairro Parada Cristal, não evidencia uma irregularidade?
Sartori: Tem concessão da rodovia estadual. Agora, com o Plano Diretor, é que foi ampliado o perímetro urbano. O melhor é conviver com sistemas diferenciados que atendam à população. Tem usuários que mesmo tendo a possibilidade de fazer outro trajeto, ainda preferem aquele transporte. Se ajuda o outro, vamos com calma e sensibilidade. Não é sair dizendo eu sou dono da rota e o resto cai fora. O que é isso? O que é ilegal é quando você retira um benefício que a sociedade tinha ou tem. Temos a plena convicção de que a administração comunitária avançou e muito no transporte coletivo, seja em infra-estrutura ou na adequação de veículos maiores. Em três anos, foram colocados 12 ônibus para atender cadeirantes, que somados aos 16 que existiam, chegamos a 28. A região do Rizzo, que tinha problemas, já está operando dois articulados novos.
Pioneiro: A Visate alega que não pode implantar horários e novas linhas sem a determinação da prefeitura. O contrato é engessado dessa forma?
Sartori: Ela pode sugerir, tem de manter uma boa relação. Qual é a empresa, que é concessionária de um serviço, que não quer estar de bem com a população? Eles podem adequar situações em sintonia com o poder concedente.
(Pioneiro, 10/04/2008)