Abastecimento ainda está ameaçado
Tubulações com 30 a 80 anos de uso são mais suscetíveis a rompimentos e representam, ainda, mais de 24% da rede total de Porto Alegre que, de acordo com Dmae, está sendo trocada gradativamente
Um em cada quatro quilômetros da rede de distribuição de água de Porto Alegre é considerado obsoleto
De um total de 3.682 quilômetros de tubulações, 24,5% (902 quilômetros) ainda é composto por canos feitos de ferro fundido, um dos materiais mais antigos já utilizados no sistema de abastecimento público. Por isso, a população ainda pode sofrer mais com a falta de abastecimento.
Por ter entre 30 e 80 anos de uso, o material é mais suscetível a rompimentos, como o registrado domingo passado em uma adutora localizada na esquina da Rua Câncio Gomes com a Avenida Voluntários da Pátria, no bairro Floresta. O vazamento deixou cerca de 170 mil pessoas sem água, por mais de 48 horas em 16 bairros.
O investimento médio de 14,2% da receita do departamento em obras nos últimos 10 anos foi insuficiente para a substituição total da rede. Cerca de 50 quilômetros de tubulações da rede são substituídas todos os anos. Se a média for mantida, as tubulações de ferro fundido levarão cerca de 18 anos para serem totalmente trocadas por material mais moderno e resistente, o polietileno de alta densidade.
O Centro é uma das áreas mais propensas a vazamentos pela existência de tubulações com até 80 anos de uso, que superam em três décadas a vida útil estimada. Em vias como a Rua dos Andradas e a Avenida Salgado Filho, os canos já foram trocados há quatro anos. O restante está em fase de projeto.
Segundo o diretor-geral do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), Flávio Presser, os grandes investimentos na rede de água da Capital só puderam ser retomados com a superação do déficit nas contas da prefeitura na atual gestão.
No ano passado, foram investidos R$ 69,5 milhões na substituição e na extensão das redes de água e esgoto. Uma das principais obras foi a substituição de 20 quilômetros da rede na Cidade Baixa.
Atualmente, 30 equipes atuam nos reparos, além de duas equipes especiais para casos que envolvam grandes redes.
Segundo Flávio Presser, a possibilidade de repetição dos problemas como o ocorrido nesta semana não está descartada.
- O risco (de novos problemas) existe, mas é baixo. O sistema precisa de manutenção - argumenta Presser.
O superintendente de Desenvolvimento do Dmae, Paulo Dourado, analisa que, ao longo das últimas décadas, nunca houve problemas de grandes proporções na distribuição de água, em intervalos de tempo curtos. Na área afetada no domingo, uma nova rede de 1,5 mil metros de extensão será ativada até o fim deste mês. A nova adutora reduzirá vazamentos por ser mais resistente que a atual.
Mesmo problema, 15 anos depois
Nos anos de 1993 e 2008, o dia 6 de abril foi marcado pela falta de água para porto-alegrenses de 16 bairros
- Assim como no domingo passado, há 15 anos, os problemas foram provocados pelo rompimento de uma adutora de água bruta da Estação de Tratamento Moinhos de Vento, conforme reportagens de ZH nos dias 8 e 9 de abril de 1993
- Os dois vazamentos, de grandes proporções, atingiram as tubulações situadas sob a esquina da Rua Câncio Gomes com a Avenida Voluntários da Pátria
- Nesta semana, cerca de 170 mil pessoas ficaram sem água por até 48 horas. O problema, que começou no domingo, só foi normalizado totalmente na madrugada de ontem
- Há 15 anos, o conserto que deveria durar 15 horas levou mais de dois dias
- Quando a água retornou aos canos, após o primeiro conserto, o desgaste das peças de encaixe da adutora resultou em nova interrupção, prolongando o drama de cerca de 300 mil pessoas sem água, em casa e no trabalho
- No domingo passado, o reparo foi realizado 20 horas após o vazamento. Cinco horas depois, na madrugada de segunda-feira, dois novos rompimentos ocorreram:na Câncio Gomes e na Cristóvão Colombo com a Doutor Vale. Na tarde de segunda-feira, outro problema atingiu o mesmo ponto da Cristóvão Colombo
Opinião
José Fogaça, Prefeito
"Em minha casa, tivemos problemas como todos e os enfrentamos como todas as pessoas da região. Os funcionários do Dmae fizeram esforço enorme para solucionar essa situação inesperada, que ocorreu poucos dias antes da substituição da rede no local, prevista para o dia 19."
(Zero Hora, 10/04/2008)