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etanol
2008-04-10

Ministro Miguel Jorge diz que, em viagem, Lula pediu grupo de trabalho para Europa.

A pedido do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governo brasileiro pretende criar uma estratégia para "responder" às críticas à produção de biocombustíveis que têm sido levantadas nos países europeus.

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Miguel Jorge, disse que o governo planeja criar um grupo de trabalho formado pelos ministérios ligados ao etanol para "estabelecer uma estratégia permanente de comunicação" em defesa do produto, menina dos olhos do presidente Lula em viagens ao exterior.

"Aparentemente, começou uma estratégia de ataque ao biocombustível na Europa", disse o ministro, que acompanha a visita presidencial à Holanda e à República Checa. "E não tem muito sentido."

"Nós vamos estabelecer uma estratégia para que a gente possa responder a isso da melhor maneira possível", acrescentou Miguel Jorge.

A estratégia seria concebida por ministérios como o do Desenvolvimento e o da Agricultura, e executada por órgãos brasileiros no exterior, com a distribuição de obras explicativas sobre o etanol por embaixadas em diversos países.

Protecionismo

Miguel Jorge disse que é "surpreendente" que as críticas ao etanol estejam sendo levantadas agora, "porque o processo não é novo".

"A questão do etanol vem sendo discutida há muito tempo e, em um determinado momento, aparecem relatórios e outras questões que até então não haviam aparecido", afirmou o ministro.

"Em minha opinião, é muito protecionismo", acrescentou. "Faz parte do protecionismo clássico europeu."

Mas Miguel Jorge ressaltou que a estratégia de comunicação "não é um contra-ataque". "Acho que são mais explicações", afirmou. "A gente precisa dar mais explicações."

O ministro disse que a criação do grupo de trabalho foi uma orientação dada pelo próprio presidente durante a viagem entre Brasília e Roterdã. "Falamos disso no avião, e a orientação do presidente é essa", afirmou.

"Foi isso que o presidente pediu nessa viagem, que criássemos um grupo de trabalho para divulgar melhor (o etanol), ter um esforço permanente para atingir a opinião pública."

Trabalho escravo

A produção de etanol tem sido cada vez mais criticada por entidades e especialistas que alertam para os efeitos colaterais da produção de biocombustíveis.

Organizações como a FAO, o braço da ONU para os alimentos, dizem que utilizar colheitas de alimentos para produzir combustível ameaça o fornecimento de comida para as populações e, portanto, o combate à fome.

Já entidades ambientais alegam que os ganhos com a produção de biocombustíveis são anulados por uma suposta aceleração no processo de desmatamento.

Há, por fim, argumentos que sublinham as más condições de trabalho - às vezes, escrava - nas fazendas de cana-de-açúcar no Brasil.

"Todas essas questões não são novas. Inclusive melhoraram", rebateu o ministro, que, em seguida, listou seus argumentos.

"As condições de trabalho melhoraram. Tem um esforço da Única, a união das usinas de açúcar de São Paulo, que é a maior, de discutir com os sindicatos para melhorar e fazer ajustes de conduta para evitar esse problema, que acontece muito em regiões isoladas", afirmou Miguel Jorge.

"Você não vê esse problema nos chamados Estados mais desenvolvidos", acrescentou. "O trabalho escravo, por exemplo, não ocorre em São Paulo, que é o maior produtor do mundo, pelo menos que a gente tenha conhecimento."

Fronteira agrícola

Para o ministro, "a Europa desconhece o mundo todo e toma a situação em duas ou três fazendas no Estado do Pará, por exemplo, como uma questão do país inteiro."

Miguel Jorge disse que a questão do desmatamento levantada por alguns críticos "não tem nada a ver com a produção do etanol".

"Se você olhar o mapa do Brasil, as grandes áreas produtoras de cana-de-açúcar estão muito longe da fronteira agrícola do Brasil, e muito longe inclusive da Amazônia."

"No Brasil, a área utilizada pela pecuária, por exemplo, é de 20%. A cana usa menos de 4% do território", afirmou. "Só modernizando as áreas de pastagens e reduzindo a área utilizada, não precisaríamos usar área mais nenhuma no país (para plantar cana)."

Por outro lado, indicou o ministro, o uso do etanol reduz a poluição ambiental das grandes cidades, principalmente com a popularidade dos carros com tanque de combustível flexível.

"Eu não consigo imaginar (a sustentabilidade de) São Paulo com 6 milhões de veículos se 90% dos automóveis que entram em circulação na cidade não usassem álcool", comentou.

Etanol nacional

Mais complexa é a questão da substituição de plantações voltadas para a produção de alimentos por colheitas destinadas para a produção de biocombustível, já que este é um problema que ocorre, por exemplo, nos Estados Unidos. "Mas, no Brasil, não há essa substituição", disse o ministr.

Miguel Jorge acrescentou que, no caso americano, cuja matéria-prima é o milho, "eles usam um material mais caro de produzir e transformar e que, em termos de energia, é menos eficiente, porque precisa-se de mais energia para produzir combustível a partir do milho que da cana-de-açúcar".

Os comentários indicam que, se levar adiante a idéia da divulgação do etanol, o Brasil não deve procurar fazer uma defesa irrestrita do produto - aliando-se, por exemplo, aos Estados Unidos - e sim uma defesa do "etanol verde-amarelo".

O tema poderia entrar em conversas que o ministro terá com empresários ao longo dos dias em que permanecerá na Holanda. Tanto ele como o presidente Lula participarão de eventos empresariais para fomentar as boas relações bilaterais econômicas.

Mas o foco da visita não é a promoção dos biocombustíveis, e sim de oportunidades de investimento no Brasil em obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lembrou o ministro.

"Podemos aproveitar a ocasião e conversar com os empresários", afirmou. "Mas eles sabem de tudo isso. Sobretudo os empresários holandeses, que têm uma relação muito próxima com o Brasil."

(Agência Estado, 09/04/2008)


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