Justiça determinou a demolição de ponto de encontro de quatro gerações
Um ponto de encontro de quatro gerações de Porto Alegre deve desaparecer hoje (10/4) das margens do Guaíba. Quase três anos depois da sentença judicial que determinou a sua retirada da orla da Zona Sul, está prevista para esta manhã a demolição do Bar do Timbuka, na Vila Assunção.
Amado por seus freqüentadores como um ambiente privilegiado para desfrutar o pôr-do-sol, namorar e reunir amigos e odiado por vizinhos que reclamam da perturbação e do consumo de drogas no local, o estabelecimento é o último bar instalado irregularmente na orla. Assim como o Bar do Orlando, removido em agosto de 2007 de Ipanema, será demolido para cumprir o projeto de regularização da área, iniciado pela prefeitura em 1993. Segundo a Procuradoria-geral do Município, a expectativa é de que o mandado judicial seja cumprido ate as 9h de hoje.
No fim da tarde de ontem (09/4), os clientes lamentavam a perda do tradicional ponto de referência. Entre copos de cerveja e vozes embargadas, combinaram voltar ao bar nesta manhã, para um abraço simbólico.
- Nos sentimos órfãos. Todo mundo aqui se conhece, a gente tem até time de futebol do bar - emocionava-se o analista de sistemas Marcos Soares, 47 anos, que, como a maioria dos freqüentadores, comparece ali diariamente, aos fins de tarde.
Enquanto seu advogado tentava os últimos recursos para impedir a demolição, o proprietário, Sergio Campos, ainda acreditava que poderia permanecer no ponto, comprado por ele em 1968. Iniciado como um armazém que vendia secos e molhados para famílias que acampavam com carroças nas margens do Guaíba, na década de 80 se transformou em um point para a juventude.
Com espaço para apresentações de bandas, reunia até 2 mil jovens aos domingos, entre os anos de 1985 e 1996, e hoje tem fiéis freqüentadores de todas as idades.
Entre a vizinhança, o sentimento é outro. Cansados de conviver com a aglomeração do público, e som alto esperam recuperar a tranqüilidade.
- A comunidade vai poder se reapropriar de um local que é seu - vibrou a presidente do Centro Comunitário de Desenvolvimento da Tristeza, Pedra Redonda, vilas Conceição e Assunção, Maria Angela Pellin.
O futuro da área
- A prefeitura planeja construir um trapiche, com quiosque, concha acústica e espaço de convivência, mas a proposta ainda não previsão de conclusão
- Antes mesmo de ser apresentada oficialmente, a idéia enfrenta resistência. A representante dos moradores da região, Maria Angela Pellin, defende que nada seja construído no local
- A polêmica é o desfecho de um estabelecimento que tem uma história curiosa até em sua denominação. Timbuka era o nome de um menino travesso, personagem de uma radionovela, que foi escolhido pelo proprietário para homenagear seu irmão caçula, com o mesmo apelido
(Zero Hora, 10/04/2008)