Os efeitos da poluição atmosférica na saúde pública no Litoral Alentejano vão ser medidos, a partir do Verão, com recurso à análise da concentração de poluentes nos líquenes, conjugada com a monitorização da qualidade do ar. O sistema Gestão Integrada da Saúde e do Ambiente (GISA), que associa várias disciplinas, foi apresentado hoje, no auditório do Centro de Artes de Sines (CAS).
Em fase de implementação desde Janeiro, depois da assinatura de um protocolo de cooperação entre 21 entidades (municípios, administração central, universidades e empresas do complexo industrial de Sines), o projecto prevê iniciar a recolha de dados no próximo Verão. Uma das principais técnicas a utilizar, foi explicado hoje, será a análise da concentração de poluentes nos líquenes (musgo), conhecidos pelas propriedades biomonitoras.
"Para proceder à optimização da rede de monitorização da qualidade do ar, vamos usar equipamentos físicos, como sejam os tubos difusores, e líquenes, como biomonitores", explicou Maria João Pereira, do Centro de Recursos Naturais e Ambiente (CERENA) do Instituto Superior Técnico (IST), responsável pela coordenação científica do projecto.
Os líquenes, precisou, serão utilizados "enquanto bioindicadores da poluição atmosférica, para analisar o seu impacte na saúde pública". Este estudo permitirá ainda actualizar o mapa de 2002, quando foi implementado um estudo do género relativo ao concelho de Sines, alargando agora o plano de acção aos outros municípios do Litoral Alentejano (Odemira, Santiago do Cacém, Grândola e Alcácer do Sal).
A colocação de tubos de difusão em árvores e postes da região, a 2,5 metros de altura, e a conjugação de dados com a análise resultante das estações locais de medição da qualidade do ar (Monte Chãos, Sonega e Monte Velho) são outras das formas encontradas para apurar os efeitos da poluição atmosférica na saúde.
Em breve, a juntar a estas, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo (CCDRA) irá adquirir uma estação móvel que deverá percorrer as cinco sedes de concelho em diferentes estações do ano, para "uma medição urbana". Entre os diversos dados recolhidos, o plano de amostragem prevê a realização de oito campanhas em 24 meses, em 105 pontos de amostragem, com uma amostra por cada cinco mil hectares, referiu Paulo Beliche, dos serviços de Ambiente da CCDRA.
O projecto associa ainda outros dados, como os recolhidos pelos centros de saúde dos cinco concelhos, que vão incidir sobre as crianças até um ano de idade, consideradas "mais vulneráveis". O atraso no crescimento intra-uterino, partos prematuros e baixo peso ao nascer serão dados a ter em conta, além do desenvolvimento durante o primeiro ano de vida, adiantou Fernanda Santos, delegada de Saúde de Sines.
O GISA é um projecto que associa as componentes do ambiente e saúde pública para monitorizar e avaliar situações de alerta, de forma a gerir os riscos ambientais para a saúde da população da sub-região. Com um custo global de quase 1,2 milhões de euros, assegurados pelas cinco câmaras, administração pública e empresas, o projecto visa ainda dotar as diversas entidades de um sistema de informação de suporte à gestão da qualidade do ar.
No domínio técnico, participam, além do IST, a Fundação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FFCUL), o Instituto Superior de Ciências do Trabalho e Empresa (ISCTE) e o Instituto de Estudos Superiores de Recursos Naturais (INESRE). Quanto às empresas, todas instaladas em Sines e Santiago do Cacém, são a Petrogal, Repsol, Administração do Porto de Sines, EDP, Aicep Global Parques, REN Atlântico, Águas de Santo André, Carbogal, EuroResinas e Kimaxtra.
Recordando a evolução do projecto, iniciado há três anos com uma candidatura ao programa comunitário LIFE Ambiente, o presidente do município de Sines, Manuel Coelho, enfatizou o seu alargamento à sub-região, lembrando que "a poluição não tem fronteiras". Numa segunda fase, que está neste momento a ser alvo de candidatura ao Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN), o GISA prevê incluir as componentes de solos, água subterrânea e água superficial.
(Lusa, Ecosfera, 09/04/2008)