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2008-04-10

As mudanças climáticas se devem principalmente às emissões de gases de efeito estufa (GEE) para a atmosfera, provocadas pelo emprego dos combustíveis fósseis e pelo desmatamento. Atualmente a concentração na atmosfera de um dos principais GEE, o dióxido de carbono (CO2), é a maior dos últimos 650.000 anos. Até o final do século XVIII nunca a concentração de CO2 superou 300 partes por milhão (ppm), mas em 2007 chegou-se a 400 ppm. As atividades humanas (de uns mais que de outros) têm mudado a composição química da atmosfera.

Quem esteja acompanhando minimamente o noticiário sobre mudanças climáticas sabe que a questão central dos próximos anos no mundo e no Brasil será a energia. Que fontes vamos usar? Que vantagens e conseqüências negativas pode ter cada uma delas? O que é evidente que sem mudanças efetivas na estrutura energética, não vai adiantar nada e seguiremos firmes na rota de colisão em que o atual sistema energético-econômico colocou a humanidade e o planeta.

No caso do Brasil. como fica a oferta de energia? Precisamos mesmo de mega-hidrelétricas na Amazônia e em outras partes, com elevados custos financeiros, sociais e ambientais? Teremos de recorrer à energia nuclear muito mais cara, insegura e sem solução para o problema do lixo nuclear? Precisamos ativar termelétricas a carvão e diesel, altamente poluidoras? Ou podemos até reduzir em mais de 30% nosso consumo, com programas eficientes de conservação e eficiência energética, e  aumentar substancialmente a produção de energia a partir de fontes renováveis como a solar, a eólica, a biomassa, a das marés?

Ao constatar o que esta ocorrendo a nível mundial do ponto de vista da utilização de fontes renováveis de energia, o relatório Renewables 2007: Global Status Report (Estado global das energias renováveis em 2007), preparado pela Renewable Energy Network for the 21 th Century - REN21 (Rede de energias renováveis para o século 21) em colaboração com WorldWatch Institute, afirma que a capacidade instalada total de geração de eletricidade renovável dobrou desde 2004, alcançando cerca de 240 gigawatts (GW) em 2007, o que corresponde a 5% da matriz elétrica mundial.  Estima-se que mais de US$ 100 bilhões foram investidos somente em 2007.

A energia eólica é a que representa a maior fatia da geração de energia elétrica, com um crescimento de 28% no mundo em 2007, alcançando estimados 95 GW de potência instalada.  Por outro lado, a conexão de painéis fotovoltaicos (FV) diretamente na rede elétrica é a tecnologia que mais cresce, com um aumento anual de 50% na capacidade instalada acumulada de 2006 e 2007. Atualmente  se estima em 7,7 GW a potência instalada desta tecnologia. Isto se traduz em 1,5 milhões de casas com painéis solares atuando como produtores independentes de energia elétrica.

Já os coletores para aquecimento solar fornecem  atualmente água quente para cerca de 50 milhões de residências em todo o mundo, e aquecimento interno para um crescente número de casas. A capacidade de geração de água quente juntamente com o aquecimento residencial aumentou 19% em 2006, alcançando 105 gigawatts-térmico (GWte).  Políticas públicas para o aquecimento solar de água e de produção de biocombustíveis têm crescido substancialmente.


A produção de biocombustíveis (etanol e biodiesel) excedeu a estimativa de 53 bilhões de litros em 2007, uma alta de 43% em relação a 2005. A produção de etanol em 2007 representou cerca de 4 % dos 1,3 bilhões de litros de gasolina consumida globalmente.

Energias renováveis, especialmente pequenas hidrelétricas, biomassa e painéis fotovoltaicos fornecem eletricidade, aquecimento, energia motriz e bombardeamento de água para mais de dez milhões de pessoas em áreas rurais de países em desenvolvimento. Estes países detêm mais de 40% da capacidade instalada de energia renovável existente, mais de 70% da capacidade de aquecimento solar de água e 45% da produção de biocombustíveis.

O relatório citado mostra que estas tecnologias estão prontas para dar uma contribuição significativa para atender as necessidades energéticas e reduzir o crescimento das emissões de CO2 nos próximos anos. A ciência está nos dizendo que devemos reduzir substancialmente as emissões agora, mas isto só acontecerá com políticas corajosas e necessárias para acelerar o crescimento e a inserção das energias renováveis na matriz energética. É isto que se espera em nosso país.


(Por Heitor Scalambrini Costa*, Eco Agencia, 09/04/2008)

*Heitor Scalambrini Costa é físico e professor da Universidade Federal de Pernambuco;  mestre e doutor nas áreas de energia solar e energética, respectivamente, pelo Departamento de Energia Nuclear da  Ufpe e Commissariat à l’Energie Atomique-CEA, Centre d’Etudes de Cadarache et  Laboratoire  de Photoelectricité Faculté Saint-Jerôme/Aix-Marseille III, France. 


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