O mercado de artigos de luxo cresceu 35% no Brasil nos últimos três anos, mais do que na China (30%) na Índia e na Rússia, onde também se formou uma nova classe de milionários – embora 20% da população tenha caído abaixo da linha de pobreza. Os ricos tupiniquins gastaram R$ 2,6 bilhões em 2006. No mundo o faturamento chegou a 159 bilhões de euros. Os dados são da Consultoria especializada Bain & Company. No próximo mês de abril, a capital da riqueza no Brasil – a cidade de São Paulo – vai inaugurar mais um shopping direcionado à classe alta, os consumidores AAA. Fica no bairro Cidade Jardim, na beira da marginal do rio Pinheiros. A mesma definição não pode ser endereçada ao rio, que seria classificado como PPP(super, hiper, ultra, poluído). Num estudo realizado pelo economista Márcio Pochmann, em 2004, chamado “Os Ricos do Brasil” São Paulo (município) aparece em primeiro no ranking dos 10% mais abastados do país. São 443.462 famílias, o Rio vem em segundo lugar com 76.317 famílias, Brasília é a terceira com 34.994 famílias, depois Belo Horizonte com 27.526, São Bernardo do Campo com 23.394 e Porto Alegre com 23.224 famílias.
Ricos perpétuos
Os 10% mais ricos do Brasil detém 45,3% do produto interno brasileiro (PIB). Mas levando em consideração o patrimônio (imóveis, aplicações, ações) o número sobe para 75,4%. A renda das 76 mil famílias mais ricas em São Paulo é de R$36 mil mensais, muito maior que a média dos ricos no restante dos estados – R$ 14 mil. A concentração em São Paulo aumentou nas últimas duas décadas com a globalização, resultou na concentração das atividades financeiras na capital, embora parte da indústria tenha se deslocado. Por isso mesmo, os ricos paulistanos podem usufruir da sua frota de helicópteros – a maior do país, terceira maior do mundo -, maior número de Ferraris – custo acima de R$ 1 milhão, e de dezenas de lanchas Intermarine 740 Full (custo de R$ 3 milhões), considerada a mais luxuosa. Uma parte ilustrativa da pesquisa mostra que a riqueza destas famílias vem se acumulando a séculos, desde 1700, quando o Rio de Janeiro detinha 68% da riqueza nacional. Nas últimas duas décadas a maior percentagem de gastos dos milionários (23%), foi registrada no item compra de ativos, ou seja, aplicações no aumento da riqueza, principalmente, títulos do governo, recebem os maiores juros do mundo.
Busca do bem-estar
Fico me sentindo um verdadeiro idiota pensando no desenvolvimento sustentável do planeta, o equilíbrio entre o que se pode usar e não correr o risco de esgotar. A mudança de hábitos de consumo, a redução dos supérfluos. Vejam a descrição do futuro shopping: primeiro a comodidade de fazer entregas em casa. O shopping terá áreas abertas, luz natural e lojas de frente para jardins. O presidente da incorporadora JHSF, José Auriemo Neto, disse aos jornais que “vamos inaugurar uma nova geração de shopping centers para atender o maior anseio das pessoas hoje em dia, que é a busca do bem-estar”. O novo conceito de vendas, promete fugir da estrutura de um centro de compras convencional, que tira a noção do tempo e estimula o consumo desenfreado.
O economista Ignacy Sachs, que trabalha com desenvolvimento sustentável desde a década de 1950, registra em seu último livro “Rumo à ecossocioeconomia” a concentração cada vez maior da renda e dos negócios do mundo, nos países do Hemisfério Norte. Em um texto, escrito em 1994, ele descreveu:
- O fosso que separa o norte e o sul, em termos de riqueza, capacidade tecnológica, modos de vida e problemas sociais constrangedores é tão profundo que não se pode evocar o pretexto da universalidade para impor uma estratégia única e obrigações equivalentes aos dois grupos de países.... a distribuição cada vez mais desigual dos frutos do progresso tecnológico e econômico resulta da má organização social e política, não da escassez de bens. Crescimento e desenvolvimento não são sinônimos. É um erro dizer que os exorbitantes custos sociais e ecológicos de certas formas de crescimento econômico constituem os danos inelutáveis do progresso”, destaca ele.
Todos Verdes
É mais ou menos o que acontece hoje com a tal responsabilidade de cada um, na proteção ao meio ambiente, que virou peça publicitária de empresas e a essência do chamado marketing verde: todos somos responsáveis. O favelado e o milionário. Eu que não tenho carro, não gosto de carro, nunca me interessei em dirigir e os proprietários de picapes que rodam nas cidades, simplesmente por modismo, além de consumirem muito mais combustível. Aliás, a indústria automobilística também está ficando “verde”. A Fiat, no Salão de Genebra Itália, realizado recentemente, apresentou um salão verde, com um “Panda Aria”, como uma das estrelas da festa. Lançamentos generalizados com baixo consumo de combustível – carros que rodam 30, 50 km com um litro de gasolina -, e baixíssimas emissões – 102, 130 gramas de dióxido de carbono. Tudo certificado. Não sei quem vai contar as gramas na hora de rodar pelas metrópoles do mundo. A Toyota lançou um novo conceito o “revolucionário” I/X, um cupê com quatro portas e apenas 412 quilos, construído com materiais inovadores, como plástico de alta resistência e fibra de carbono”, conforme a propaganda oficial. Utiliza um motor de 500 cm³, faz 30 quilômetros por litro e um motor convencional a gasolina. Se for híbrido pode passar dos 50 km/litro.
A Toyota obteve um lucro líquido superior a 16 bilhões de dólares, em 2007. E a GM já lançou um modelo movido a hidrogênio, anunciando que fará uma experiência na cidade de Berlim, ainda este ano, onde três postos estão equipados para fornecer o novo combustível.
Tempestades de areia
As montadoras, as petrolíferas, as mineradoras, todos estão se tornando adeptos do “mundo sustentável”. Na prática continuam gerando maior número de resíduos, aumentando o consumo, sem limite definido no horizonte. Pergunto: qual o suporte físico do planeta para veículos: um bilhão vamos atingir antes de 2010. Quantos serão em 2020, 2030? Quantos veículos suporta uma cidade como Porto Alegre – com 600 mil, atualmente, e 1, 3 milhão de habitantes? São Paulo, com seus 6 milhões de carros, chegará a quantos na copa de 2014, que poderá estrear no Morumbi? Na China, em agosto próximo, o governo já decidiu que vai paralisar mais de 3 mil construções em Pequim. Quer reduzir a poluição de qualquer jeito, e mostrar ao mundo que o crescimento de 10% anual também é verde.
Agosto, período das olimpíadas, é época das tempestades de areia. Últimas notícias: em 2007 as brasileiros gastaram R$ 1 bilhão em cirurgias plásticas. Na China 1 milhão de mulheres operaram os olhos aumentando as pupilas, no modelo ocidental. A plástica custa US$ 5 mil dólares. Esta semana a ONU fez um apelo aos países membros, com objetivo de recolher doações na ordem de 1 bilhão de dólares. O motivo: aumento de 40% nos preços dos alimentos básicos – trigo, arroz, milho. Sem doações, faltará comida aos refugiados da guerra e da seca, em vários partes do mundo.
(Por Najar Tubino*, Eco Agência, 07/04/2008)
*Jornalista