Na quinta-feira, 10 de abril, serão abertas as comportas da represa da barragem de Nam Theun 2, no Laos, para que ela receba água. Serão necessários vários meses de vazão até que ela alcance a sua superfície máxima de 450 km2 - os três quartos do lago Léman, na Suíça -, concretizando desta forma o maior projeto de energia hidrelétrica no mundo depois daquele da barragem das Três Gargantas na China. Se tudo correr conforme as previsões, a central de 1.075 megawatts começará a produzir em dezembro 2009, e 95% da energia produzida serão vendidos para a Tailândia.
Até o último momento, a decisão de abrir as comportas permaneceu na dependência do parecer de três especialistas independentes encarregados de verificar, a pedido do governo e dos credores investidores, se as normas de segurança estabelecidas para a construção da barragem haviam sido respeitadas. Estas normas haviam sido impostas à Nam Theun Power Company (NTPC), o consórcio internacional que está construindo e administrará a barragem, com a preocupação de compensar os impactos humanos e ambientais a serem gerados pela obra. Com o objetivo de obter o apoio dos grandes credores investidores internacionais, este conjunto de normas de segurança foi apresentado como sendo exemplar e sem precedente.
Com efeito, foi somente com esta condição que o Banco Mundial aceitou tomar parte do projeto em 2005. Assim, esta instituição confirmou naquela mesma oportunidade que estava retomando as suas atividades no sentido de financiar infra-estruturas como esta, cujas conseqüências continuam sendo criticadas pelas organizações não-governamentais (ONGs).
Para o governo laociano também, o sucesso deste projeto corresponde à realização de interesses consideráveis que estão em jogo, uma vez que ele fez da barragem de Nam Theun 2 uma vitrine destinada a atrair investidores estrangeiros e a transformar o país numa "força motora" da região até 2020, segundo os seus próprios termos. A construção de cinco outras barragens foi confiada a empreiteiras chinesas e tailandesas. Existem mais de vinte outros projetos aguardando para serem realizados.
Estoques de proteínas
Para caracterizar a importância do evento, o Banco Mundial promoveu a publicação de um artigo nos principais jornais laocianos e tailandeses, no qual o seu representante para a Ásia do Sul sublinha a exemplaridade do projeto, que irá proporcionar "às populações que se incluem entre as mais pobres da Ásia os meios para se livrarem da pobreza". A NTPC, da qual a companhia energética francesa EDF é acionista em 35%, prometeu aos 6.200 aldeões que tiveram de ser retirados da área que a sua renda iria duplicar no decorrer dos cinco anos que se seguirão à sua remoção. Mas a barragem deverá alterar também o cotidiano de cerca de 80.000 habitantes que vivem nas ribanceiras do rio Xe Bang, no qual serão rejeitadas as águas usadas pela central.
O vigor da argumentação do Banco Mundial visa a responder à dureza das críticas que vinham reclamando o adiamento da inundação do planalto de Nakai, onde a barragem está sendo construída. Num relatório que foi publicado no final de fevereiro, a ONG americana International Rivers, que vem acompanhando o projeto desde os seus primórdios, expressa uma viva preocupação em relação ao futuro dessas populações: "Para elas, foram construídas casas novas, dispensários e estradas que permitem aceder às aldeias, mas, como elas irão fazer para sobreviver? Os programas de acompanhamento que supostamente deveriam garantir aos aldeões novos meios de subsistência sofreram atrasos consideráveis".
Com efeito, a NTPC, que dispõe na região de uma equipe de 160 pessoas cuja missão é de oferecer respostas aos impactos causados pela barragem, precisa enfrentar dois desafios de marca maior: ser bem-sucedida no processo que visa a sedentarizar as populações que foram removidas, as quais praticavam o nomadismo no planalto, vivendo da cultura do arroz, de caça e de pesca; prevenir os efeitos da construção sobre a vazão dos rios e a qualidade da água.
No decorrer dos próximos dias, os habitantes que vivem nos arredores do rio Nam Theun vão ter de enfrentar um esgotamento drástico dos seus recursos aquáticos. "Nós constituímos estoques de proteínas de modo a compensar eventuais deficiências alimentares", tenta tranqüilizar Olivier Salignat, o diretor adjunto dos programas de acompanhamento, que admite a dificuldade de se estimar os impactos com precisão.
Ao longo do rio Xe Bang, 82 poços serão perfurados para garantir um acesso à água potável. Os habitantes do planalto, aos quais foi concedido um direito de pesca exclusivo no lago da barragem para um período de dez anos, já estão sendo assistidos pelo programa de assistência alimentar. "O enchimento da represa da barragem encerra uma primeira etapa. As infra-estruturas que haviam sido prometidas para as pessoas removidas foram realizadas. Agora, a nossa meta é de nos concentrar nos programas de longo prazo", reconhece Olivier Salignat. A NTPC prometeu dar prosseguimento ao programa de acompanhamento dos aldeões até 2014.
Nesta data, a expansão econômica, dinamizada pelos 8.000 empregos criados pela construção da barragem, terá arrefecido. Então, será finalmente possível dizer se Nam Theun 2 constitui mesmo um caso virtuoso na história controvertida das barragens.
(Por Laurence Caramel, Le Monde, tradução de Jean-Yves de Neufville, UOL, 08/04/2008)