Estado quer convocar 4 mil guias que atuaram no Pan
Em plena epidemia de dengue e após 67 mortes, o secretário da Saúde e Defesa Civil do Estado do Rio, Sérgio Côrtes, e seu colega da Segurança Pública, José Mariano Beltrame, ainda buscavam ontem reforços para combater a proliferação do mosquito transmissor da doença, o Aedes aegypti. Eles pediram a líderes comunitários que convoquem os 4 mil guias cívicos que atuaram nos Jogos Pan-Americanos no ano passado para ajudar no combate aos focos da dengue nas favelas cariocas. O objetivo é que os jovens, entre 14 e 24 anos, orientem os moradores na eliminação de criadouros de larvas.
Porém, para os guias entrarem em ação, os secretários e as lideranças no Ginásio do Maracanãzinho devem superar outro obstáculo. O pagamento da bolsa-auxílio de meio salário mínimo que a União ainda deve a alguns dos guias desde o encerramento do Pan. "O pior é que alguns jovens acham que nós, os coordenadores dos grupos, ficamos com o dinheiro. Doze jovens dos 50 do meu grupo não receberam o último mês", lamentou Rogério Lima, de 44 anos, que coordenou o recrutamento de guias para o Pan no Complexo da Maré, zona norte.
Beltrame disse que tentaria a liberação do pagamento. "Tentarei a liberação junto ao nosso convênio com o Ministério da Saúde."
Desde segunda-feira, 300 soldados do Exército também atuam no combate aos focos do mosquito da dengue. Eles estão trabalhando em parceria com o Corpo de Bombeiros.
AMEAÇA AO LADO
Após o encontro com líderes comunitários, Côrtes reconheceu que havia focos de larvas de mosquito da dengue no prédio ao lado do local onde ficaram hospedados médicos do Amazonas, do Rio Grande do Sul e de Mato Grosso do Sul, na Rua Gomes Freire, centro do Rio, mas explicou que os profissionais já foram transferidos para outro hotel "principalmente por causa da localização".
O governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) comparou ontem a epidemia da dengue ao crime organizado. Ele disse que ambos precisam ser combatidos e "não podem mais fazer parte da paisagem do Rio". O governador respondia a uma pergunta sobre o risco de nova epidemia em 2009. "Não sou especialista, sou carioca. Moro há 45 anos no Rio e há 16 anos, em maior ou menor escala, acompanho crises de dengue, e isso é visto como normal. Da mesma forma que não posso tolerar a ocupação das favelas por criminosos, temos que nos indignar e combater a dengue. Não podemos achar a dengue normal", disse Cabral, que voltou a falar na criação de uma comissão de especialistas que vai traçar as novas estratégias de combate à dengue e na contratação de 3.500 bombeiros para atuar como agentes epidemiológicos.
Cabral inaugurou ontem mais duas tendas de hidratação, no Méier, zona norte, e na Gávea, zona sul. Na tenda do Méier trabalham 48 profissionais cedidos pelo Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo. Coordenadora da enfermagem na área de pediatria, Denise Dalge, de 45 anos, está entre os profissionais, que chegaram ao Rio segunda-feira, sem previsão de retorno. Pela primeira vez no Rio, ela mal terá tempo para conhecer a cidade. "As pessoas têm chegado desidratadas e febris. Já trabalhei com campanhas de vacinação, mas é a primeira vez que atuo numa epidemia."
FRASE
Sérgio Cabral Filho (PMDB)
Governador do Rio
"Não sou especialista, sou carioca. Moro há 45 anos no Rio e há 16 anos, em maior ou menor escala, acompanho crises de dengue, e isso é visto como normal. Da mesma forma que não posso tolerar a ocupação das favelas por criminosos, temos que nos indignar e combater a dengue. Não podemos achar a dengue normal"
(O Estado de São Paulo, 09/04/2008)