Duas opiniões bem divergentes ficaram frente a frente no painel Aquecimento ou Histeria Global?, ontem à tarde no Fórum da Liberdade. A primeira segue as conclusões do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) - para o qual o planeta está esquentando, provavelmente pelas emissões de dióxido carbono (CO2) na atmosfera. A segunda é nova e pode ter um impacto ainda maior, especialmente para a agricultura. O mundo, nessa teoria, estaria prestes a enfrentar nos próximos 22 anos um processo de resfriamento.
A tese é do meteorologista Luiz Carlos Molion, com formação em universidades britânicas e americanas. O especialista é um dos céticos do aquecimento global. Segundo ele, se observado o histórico do clima, estaríamos entrando em uma nova era glacial. As chuvas diminuiriam, causando escassez de água, e haveria mais geadas.
Para Molion, notícias alarmistas sobre o aquecimento são tentativas de países ricos para frear o desenvolvimento de emergentes, como o Brasil. No painel, um dos pesquisadores mais citados sobre o aquecimento global, o americano Philip M. Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, ficou encarregado de expor os argumentos dos que defendem a existência da mudança climática. Integrante do IPCC, ele apresentou dados mostrando a relação entre o aumento da temperatura e a concentração de CO2 na atmosfera.
Entrevista: Philip M. Fearnside, pesquisador do instituto nacional de pesquisas da amazônia
O americano Philip M. Fearnside defende que, apesar de não conseguir bater o martelo sobre o culpado pelo aquecimento do planeta, o dióxido de carbono (CO2) é vilão, sim:
Zero Hora - Como lidamos com as incertezas sobre o que vai ocorrer com o clima?
Philip Fearnside - Você precisa tomar decisões com as informações do momento. Se optar por adiar a decisão, fazer mais 10 anos de pesquisa, pode ser um desastre. Nesse tempo será emitido muito CO2 e não haverá como voltar atrás.
ZH - Como o senhor encara as críticas dos céticos?
Fearnside - Na época em que foi assinado o Protocolo de Kyoto, houve gastos de milhões em propaganda para mostrar que o aquecimento global era uma farsa. Valor pago por companhias de carvão, os mesmos que financiam alguns dos céticos.
Entrevista: Luiz Carlos Molion, Físico e Meteorologista
Não é a primeira vez que o pesquisador Luiz Carlos Molion vai contra a corrente. Na Eco 92 dizia que não era preciso se preocupar tanto com o assunto buraco na camada de ozônio. Agora, questiona o aquecimento global:
Zero Hora - Que postura é preciso ter nesse cenário de incerteza?
Luis Carlos Molion - Não dá para arriscar o crescimento econômico e as melhores condições de vida para população com base em projeções, simulações de CO2.
ZH - Nenhuma das duas teorias é comprovada. Como saberemos qual é a verdadeira?
Molion - Digo que é muito mais provável que haja um resfriamento. O CO2 não é vilão, e a poluição pode ser controlada. O que precisamos é diferenciar conservação ambiental de combate às mudanças climáticas. Precisamos cuidar da Amazônia, por exemplo, porque ela tem um papel importante, não porque deixaremos de emitir CO2.
(Zero Hora, 09/04/2008)